São Paulo (AUN - USP) - Dissertação de mestrado observou que, apesar de a capacidade de leitura de textos ser uma cobrança recorrente nas provas, as questões se prendem a aspectos gramaticais, subestimando o valor da leitura analítica. A pesquisa é de Adriana Santos Batista, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
A pesquisadora reuniu 16 editais e cinco provas de concursos públicos para seleção de professores de língua portuguesa do ensino fundamental. Na revisão dos exames, percebeu que os textos apresentados aos candidatos funcionavam como meros “depósitos de palavras” e utilizados como instrumentos para perguntas cujo conteúdo não conseguia unir teoria e análise crítica.
Como exemplo, ela cita um editorial de jornal usado como base para uma questão, o que, à primeira vista, parece seguir a tendência surgida na década de 1980 de se trabalhar com diversos formatos de texto. Porém, a pergunta que se segue não faz referência alguma ao conteúdo da matéria, restringindo-se à gramática. “Ao final, ela poderia ser respondida com a leitura de apenas uma frase de todo o editorial. O texto fora apenas uma ‘presença física’ na avaliação, que seria substituído facilmente por qualquer outro”, diz Adriana.
O editorial era tão secundário que os organizadores do concurso só colocaram um trecho na questão, que começa com “Em segundo lugar...”, não oferecendo nenhum contexto ao candidato. De acordo com Adriana, isso não se justifica, pois o texto não era longo e poderia ser inserido na íntegra na avaliação.
Sobre as indicações bibliográficas, ela encontrou pontos interessantes, como a ausência completa de listas no edital e a posterior cobrança no exame. Em outros, a indicação de livros didáticos de ensino fundamental e médio, num concurso que seleciona professores, ou seja, profissionais já formados na graduação. Além disso, há baixa recorrência de livros de variação linguística, ainda que este seja um tema bastante em evidência no ensino de língua portuguesa.
E, por fim, percebeu erros nos títulos de algumas obras. “Em certos casos, as listas se repetem em dois ou três editais de concursos de cidades diferentes, todas com o mesmo erro. O documento, que é uma maneira de definir o perfil esperado do professor em cada região, perde esse caráter, já que foi copiado”, afirma Adriana.
Ela também notou que as provas não avaliavam conhecimentos em literatura em profundidade, já que os professores deveriam trabalhar com classes do ensino fundamental. Nesses anos, as escolas se dedicam mais ao ensino de gramática. Para a pesquisadora, no entanto, isso não deixa de ser mais um agravante na questão da leitura subestimada nas provas.