São Paulo (AUN - USP) - As pesquisas em Arqueologia produzidas na USP estão defasadas em relação à produção internacional. Essa é a conclusão de um estudo recentemente realizado no departamento de História da FFLCH. Intitulada “Uma abordagem historiográfica da arqueologia das práticas mortuárias”, a dissertação de mestrado de Marily Simões Ribeiro mostra que a produção arqueológica nacional tem três ordens de problemas: deficiências nas fundamentações teóricas, inadequação entre objetivos de pesquisa e documentação utilizada para tanto e atraso na apropriação de idéias, abordagens e autores estrangeiros nas pesquisas brasileiras.
Conforme constatou Ribeiro, “os pesquisadores brasileiros não indicam filiações nem discutem as teorias da Arqueologia como embasamento para sua pesquisa”. Mas o que a historiadora considera mais grave ainda é “a aceitação dessas pesquisas pela mais prestigiosa academia do país”.
Além disso, pôde-se verificar que a aproximação entre Arqueologia e História ainda é muito incipiente nessas pesquisas. “Parece natural que Arqueologia e História caminhem lado a lado, mas não é o que ocorre de fato nas pesquisas arqueológicas”. De acordo com as observações de Ribeiro, os estudos arqueológicos só se voltaram para a História, e vice-versa, a partir dos anos 80 – e, ainda assim, a relação entre as duas disciplinas tem sido pouco explorada. Embora aparentemente contraditório, o fato é que desde os primeiros desenvolvimentos, a Arqueologia se constituiu com método e objetivos distintos dos da História e só ultimamente é que os pesquisadores de ambas as áreas vêm procurando estabelecer ligações – necessárias, segundo a historiadora – entre uma coisa e outra.
A pesquisa desenvolvida por Ribeiro se deu no campo historiográfico, isto é, traçou um panorama histórico dos estudos arqueológicos procurando analisar sua evolução desde os primórdios da Arqueologia constituída como disciplina autônoma, no século XIX, até os estudos mais recentes, já nos anos 90.
O trabalho preliminar consistiu-se na análise das produções teóricas norte-americanas e européias, as mais avançadas segundo Ribeiro. Disso resultou um quadro evolutivo da Arqueologia, o qual a pesquisadora utilizou para avaliar a produção arqueológica brasileira, interesse principal da pesquisa. Em seguida, ela fez um levantamento dos artigos, dissertações e teses acadêmicas publicadas desde os anos 60 na Universidade de São Paulo, para verificar em que medida essa produção nacional dialogava com os trabalhos estrangeiros, incorporando ou não seus avanços teóricos. A pesquisadora afirma que a produção da USP foi escolhida por ser a mais representativa do Brasil nessa área.
Os resultados dessa avaliação – que constituem a parte mais importante e polêmica do trabalho – comprovam o atraso das pesquisas arqueológicas nacionais. Os problemas apontados configuram, no entender de Ribeiro, um obstáculo a que se possa analisar e compreender a própria pré-história brasileira: nessa produção arqueológica nacional, “não só a Arqueologia teórica não é abordada, mas também não o é a Antropologia, ocorrendo a ausência de teorias antropológicas no lidar com as populações pré-históricas brasileiras”, sintetiza ela.