ISSN 2359-5191

16/02/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 12 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Pesquisa dá origem a dicionário português-italiano dos neologismos de Grande sertão: veredas

São Paulo (AUN - USP) - Constituído de 28 palavras criadas por Guimarães Rosa, a dissertação de mestrado de Marilia Gazola apresenta dicionário bilíngue inédito dos termos do romance que não estavam dicionarizados em italiano. Os verbetes, que já constavam na versão de Edoardo Bizzarri, responsável pela tradução do romance na Itália, foram definidos e organizados conforme sua função e seu provável sentido. Em seguida, foi comparado o grau de proximidade entre original e tradução.

Por exemplo, a palavra “chiim”, usada por Rosa para designar o barulho dos grilos, virou “sciin” na versão italiana. Não dicionarizada em nenhum dos idiomas, a criação surgiu a partir de uma onomatopeia (figura de linguagem que reproduz um som com uma palavra) com a qual o brasileiro não está acostumado – já que o som geralmente atribuído a grilos é o “cricri” – e assim foi mantida por Bizzarri. A relação de estranheza que causa a leitura em português foi preservada em italiano.

Marilia reconhece a qualidade da tradução de Bizzarri: “É uma das melhores versões de Grande Sertão: Veredas já feitas”. O trabalho de verter uma obra de uma língua para outra é um processo complicado, pois requere não apenas conhecimentos linguísticos, mas também sensibilidade literária e conhecimento de mundo, principalmente daquele a que pertence o autor do romance.

O estudo levou em consideração a análise morfológica – aquela relacionada à classificação das palavras – e literária da obra Grande sertão: veredas. Marilia espera que a dissertação ajude a estimular a pesquisa na área de tradução e lexicografia, a técnica de organização de dicionários. Além disso, ela procurou “fornecer um subsídio a mais a pesquisadores, tradutores e outros estudiosos da obra do autor mineiro”, diz.

As 28 palavras foram retiradas do dicionário O Léxico de Guimarães Rosa, de Nilce Sant’ Anna Martins, fruto de dez anos de pesquisa e que contém mais de 8 mil termos dos romances de Guimarães Rosa. A abundância de expressões reunidas reflete a riqueza da linguagem de Rosa, um dos autores brasileiros mais complexos nesse quesito. “As invenções partem, em alguns casos, de junções entre palavras do português arcaico com regionalismos e termos estrangeiros”, explica Marilia.

O escritor, que viveu entre 1908 e 1967, julgava que toda a força da literatura estava na forma como ela era contada, ou seja, como a expressão se dava. Em entrevista a Günter Lorenz em 1965, ele defende que os autores deveriam criar seu próprio léxico, ou conjunto de palavras, para cumprirem sua missão, pois “o melhor dos conteúdos de nada se vale, se a língua não lhe fizer justiça”.

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