ISSN 2359-5191

27/02/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 16 - Educação - Faculdade de Educação
Consciência histórica é pouco desenvolvida em alunos brasileiros e portugueses

São Paulo (AUN - USP) - Em estudo da Faculdade de Educação (FE), o professor Ronaldo Cardoso Alves avaliou como alunos do nível médio, estudantes de escolas públicas de Brasil e Portugal utilizam a consciência histórica em sua vida, concluindo que a maior parte deles desenvolve o conceito em sua forma mais simples, sem autonomia reflexiva. Os alunos analisaram a mudança da família real portuguesa para o Brasil em 1808, episódio estudado nos dois países.

Alves utilizou as divisões tipológicas do historiador alemão Jörn Rüsen, que identifica quatro tipos de consciência histórica. Elas são, em ordem de complexidade: a tradicional, com a reprodução das tradições sem questionamento; a modelar ou exemplar, caracterizada pela repetição exata no presente de modelos que funcionaram no passado; a crítica, que rejeita ideias e ações do passado e cria modelos novos; e a genética, que não rejeita totalmente o passado, mas utiliza o que é importante nele por meio de uma constante relação reflexiva.

Baseando-se nisso, o pesquisador elaborou um questionário a ser respondido pelos alunos (150 brasileiros e 100 portugueses) com perguntas sobre a transferência da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, além de traçar um perfil socioeconômico e cultural destes por meio de outro questionário. Foram fornecidas duas versões sobre o episódio histórico selecionado, uma defendendo a ideia de fuga e outra defendendo a ideia de um plano previamente arquitetado.

No questionário, cada uma das quatro perguntas remetia a um chamado conceito metahistórico (explicação, evidência, compreensão e significância histórica), que pretendia saber que tipo de consciência histórica estava sendo desenvolvida nas escolas. De maneira geral, o pesquisador constatou que a maior parte destes alunos têm consciência histórica tradicional, não compreendendo o processo didático e sem autonomia reflexiva. No Brasil, eles foram cerca de 90% da mostra, e em Portugal 50%. Ao mesmo tempo, foi pequeno o número de estudantes com os tipos crítico e genético bem desenvolvidos.

O professor acrescenta que os alunos portugueses, embora apresentem escrita mais completa e maior nível de leitura, são pouco criativos e predomina neles a memorização. “Já no Brasil a criatividade é maior. Quando o aluno reflete historicamente de forma desenvolvida mostra maior capacidade de se colocar no lugar do outro, dada a característica holística de nossa formação”, diz.

As escolas Para a pesquisa, Alves analisou duas escolas de São Paulo, uma na região centro-oeste da cidade, onde os alunos estudam no período diurno, e outra em Osasco, com aulas no período noturno. Na primeira, os alunos não são da região onde estudam e têm mais tempo para estudar do que os alunos da escola de Osasco, onde muitos trabalham e têm renda menor. Apesar disso, os estudantes da escola pesquisada em Osasco lêem mais e frequentam mais a biblioteca, pois sua própria vivência muitas vezes já mostrou a importância do estudo. Por esse motivo, verificou-se que os alunos da escola de Osasco apresentaram consciência histórica mais desenvolvida.

Em Portugal a análise foi feita em cinco escolas: duas no Porto, duas em Braga e uma em Valongo, um distrito de Porto. É importante notar que em Portugal, a escola pública atinge quase a totalidade dos estudantes, tanto que uma das escolas de Porto fica em um bairro nobre e os alunos são da própria região. A outra fica no centro e possui alunos de classe média baixa vindos da periferia.

Das escolas de Braga, uma atende a classe média e outra a classe média baixa. Na escola de Valongo, os alunos são de classe média baixa e pobre, mas a escola possui boa infraestrutura e os alunos moram perto dela. Dentre os estabelecimentos pesquisados, os melhores resultados vêm dos alunos da escola de elite de Porto e da escola de periferia de Valongo, que tem metodologia adequada e maior acesso aos equipamentos socioeconômicos e culturais.

O estudo Aprender história com sentido para a vida: consciência histórica em estudantes brasileiros e portugueses foi orientado por Katia Maria Abud Lopes.

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