ISSN 2359-5191

14/04/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 02 - Meio Ambiente - Instituto de Química
Energia solar é alternativa para o desenvolvimento sustentável

São Paulo (AUN - USP) - A recorrência da proteção do meio ambiente como tema de diversas reuniões entre países e a proliferação de ONGs que abraçam a causa ambiental mostram que a preservação da natureza recebe cada vez mais atenção de todo o mundo. O laboratório de Fotoquímica Inorgânica e Conversão de Energia, do Instituto de Química da USP, vem desenvolvendo uma pesquisa de captação e transformação da energia solar em elétrica que busca auxiliar os esforços nesse sentido.

A pesquisa liderada pela professora Neyde Yukie Murakami Iha desenvolveu dispositivos (células solares chamadas Dye Cells, marca registrada pela Universidade de São Paulo) que substituem com grandes vantagens as já conhecidas placas negras de absorção e conversão da luz do Sol em eletricidade (as células fotovoltaicas tradicionais). Essa tecnologia separa os processos de absorção da luz e de transformação da energia solar em elétrica, que passa a ser realizada não pela placa semicondutora em si, mas por substâncias corantes sensibilizadoras depositadas sobre a mesma. Isso permite um maior aproveitamento da luz captada, com otimização acima de 90% de conversão para algumas regiões de irradiação solar.

A célula fotovoltaica convencional é comumente utilizada em satélites e veículos espaciais, mas seu uso ainda é pouco propagado no ambiente terrestre devido ao seu alto custo. Embora seja uma das formas de energia alternativa mais viável, a maior parte da energia utilizada no mundo hoje é produzida por meio de processos reconhecidamente danosos ao meio-ambiente. A construção de barragens para hidrelétricas causa graves desequilíbrios no ecossistema em que são instaladas e exige um alto investimento. O uso de combustíveis fósseis, especialmente o petróleo e o carvão mineral, é extremamente poluente, além de ser uma fonte não-renovável de energia e de sua oferta estar sujeita à condição econômica e política dos países produtores.

As Dye Cells apresentam-se, então, como uma alternativa para a solução desses problemas, já que o material utilizado na sua produção não é tóxico, não agride o meio ambiente e, ao contrário das células tradicionais, o custo energético de sua produção é baixo. Sua fonte de energia é abundante e renovável e a matéria-prima base dessas células, o dióxido de titânio, é um produto barato. Outra vantagem é que essas células têm boa eficiência mesmo sob pouca iluminação, como em dias nublados. Além disso, essas células podem ter a aparência de um vidro com a cor do corante utilizado, o que permite que a fração de luz não convertida em eletricidade seja transmitida. Dessa forma, as células podem ser usadas em substituição a painéis e janelas. Os benefícios trazidos por essa tecnologia alcançam ainda a área social, já que possibilita a geração de eletricidade em comunidades isoladas.

As Dye-cells tiveram sua validade técnica e comercial para a industrialização do invento comprovada através de Estudo da Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE), especialmente desenvolvido a pedido do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). A tecnologia inovadora teve destaque também em vários programas nos mais diversos meios de comunicação e recebeu inclusive menção honrosa do XXVIII Prêmio Governador do Estado - Invento Brasileiro, em 2002.

As células da pesquisa são ainda mencionadas como Células Solares do Século 21. Sendo assim, com o desenvolvimento sustentável ocupando lugar de destaque nas discussões pelo mundo todo, é possível questionar como uma tecnologia que pode sanar boa parte dos problemas na área de geração de energia é praticamente desconhecida pela população, já que a questão energética é estratégica para vários países.

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