São Paulo (AUN - USP) - Quando se trata de desmatamento da Amazônia, pode-se pensar que a melhor forma de conservar a floresta é deixá-la intacta, sem intervenção humana. Porém, a melhor forma de preservar é agregar um forte valor econômico ao uso correto dos recursos da floresta, de acordo com pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Segundo o Fundo Mundial para a Natureza (WWF-Brasil), 15% da madeira amazônica vão para São Paulo e 70% deste total são utilizados na construção civil. Para melhor aproveitar as propriedades de cada tipo de madeira, diminuir sua deterioração e desperdício, o pesquisador Geraldo Zenid, diretor do Centro de Tecnologia de Recursos Florestais (CT-Floresta), do IPT, estuda as propriedades físicas e mecânicas da maneira, de forma que diversas espécies de árvores possam ser usadas com melhor aproveitamento.
No passado, eram exploradas poucas espécies de árvores, como a Peroba Rosa, no Paraná. Com a expansão para o norte visando não perder o território amazônico, a floresta conhecida pela sua biodiversidade começou a ser explorada e várias outras espécies foram adicionadas no mercado madeireiro.
A pesquisa publicada por Geraldo Zenid estuda as propriedades físicas e mecânicas das toras em busca do melhor aproveitamento e diminuição do desperdício no setor da construção civil.
“Cuidado, não há madeira ruim. Uma madeira de baixa resistência, se usada em um projeto adequado, torna-se boa. Ou uma de baixa durabilidade que passa pelo tratamento correto”, explica Zenid.
O estudo, juntamente com o manejo inteligente da floresta, faz com que mais espécies sejam economicamente aceitáveis no mercado e o produto final tenha maior durabilidade.
Atualmente, o manejo sustentado é uma das fontes de madeira nativa que visa utilizar recursos naturais da Amazônia sem pensar no lucro imediato, buscando a sustentabilidade justa. As empresas têm que obter uma certificação sobre uma área estudada dividida em áreas que são revezadas e utilizadas a cada 30 anos.
“Se a floresta for manejada de acordo com normas e princípios do FSC (Conselho Brasileiro de Manejo Florestal) e do Cerflor (Certificado Florestal do Inmetro), ela poderá ter uma produção sustentada, de menor impacto florestal, uma exploração socialmente justa, já que essas certificações levam em consideração os aspectos sociais”, afirma Geraldo Zenid.
O FSC e o Cerflor são orgãos que buscam um manejo ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável. Para uma empresa explorar uma área certificada, deve se importar como os aspectos sociais e ambientais do processo. Seus funcionários devem ser treinados para que, ao derrubar uma árvore, nenhuma outra árvore próxima seja afetada. Além disso, todos devem ter registro em carteira.
Todos esses cuidados podem trazer custos maiores para o produto final, porém o custo é mais racional, por ter produção bem controlada. No mercado, não há diferença na aceitação dessa madeira para outras. Contudo, madeira proveniente dessa fonte garante que todas as leis e cuidados foram seguidos.
Por viabilizar que madeiras mais diversas tenham uso, com melhor tratamento e qualidade, a pesquisa do diretor do CT-Floresta auxilia o caminho ao equilíbrio entre o que a natureza pode oferecer e a velocidade que se recupera.