São Paulo (AUN - USP) - O GEHS (Grupo de Estudos Humanas em Sociedade), constituído por alunos da FFLCH (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP) está realizando o ciclo de palestras Humanas em Sociedade: Transpondo os muros da academia . O objetivo do Grupo é discutir a atuação do profissional da área de Humanas para além da trajetória acadêmica. Segundo os organizadores do evento, tudo surgiu a partir de uma discussão entre amigos, que falavam sobre o curso de Ciências Sociais e suas vidas no futuro. Decidiram, assim, criar um evento que não apenas lhes proporcionasse as discussões que estavam esperando, mas que pudessem ser feitas com um número maior de pessoas do curso que também têm a mesma necessidade. Além disso, o grupo pretende ser o desencadeador de novas iniciativas que, como essa, colaborem para com os alunos da FFLCH.

André Singer abriu o ciclo de palestras no dia 19 deste mês, seu tema foi O Cientista Social na Redação , já que esteve, por muito tempo, atuando como jornalista. O evento também contou com Amaury Moraes, que tratou do tema Ciências Sociais e Educação , no dia 24. No início de maio, o ciclo terá as palestras de Sérgio Adorno (dia 2), Alexandre Gonçalves (7) e Glauco Arbix (com data a confirmar). “A nossa intenção não é falar mal da academia, mas, sim, mostrar exemplos diferenciados. Começamos a pensar em nomes e criamos esse evento”, diz Guilherme Freitas, mestrando em Ciências Sociais e um dos organizadores do evento.

Jornalista por 30 anos, hoje, André Singer pretende se dedicar à academia, deixou completamente sua carreira como jornalista. Ele conta que iniciou o curso de Ciências Sociais visando à carreira acadêmica, mas, quando finalizou o curso na FFLCH, se viu desempregado e não conseguiu emprego em nenhuma das universidades para as quais entregou seu currículo. Foi então que recebeu um convite da Folha de S. Paulo, jornal que crescia muito na época, para organizar debates. No convívio com os colegas da Folha, acabou por se interessar pela profissão de jornalista. Assim, ele iniciou uma nova carreira, cursou jornalismo na ECA, e iniciou seus trabalhos como jornalista na Folha e, mais tarde, na Abril. Durante a campanha do ex-presidente Lula, trabalhou como porta-voz, função que manteve durante o primeiro mandato de Lula na Presidência da República. Em 2007 ele abandonou o jornalismo e voltou para a academia.

Singer não acredita que seu primeiro curso, Ciências Sociais, o tenha ajudado de forma significativa para trabalhar como jornalista, tendo contribuído apenas como uma “cultura geral” e com sua forma sociológica de interpretação de mundo. “O jornalismo não é uma profissão com começo meio e fim, é uma profissão em si mesma e, para exercer o jornalismo, você precisa aprender um conjunto de técnicas que são específicas”. Ele acredita que um cientista social recém- saído da universidade não está ainda apto para exercer a profissão de jornalista, devido ao trabalho do “dia-a-dia” do jornalismo ser totalmente diferente do aprendido nesse curso. “Eu tive que aprender um mundo completamente novo. Tinha muita dificuldade, na época para escrever, e, muito mais ainda para entender como era a redação jornalística e conseguir desempenhar aquilo.”

Como cientista, Singer vê sua carreira no jornalismo como um atraso. “Se a gente olhar do ponto de vista do trabalho intelectual, foi um desvio muito grande.” Entretanto, ele acredita que o trabalho jornalístico o ajudou quanto ao seu crescimento pessoal e entendimento de mundo. “Não digo que tenha valor intelectual, por que muitas vezes a experiência de vida não se trata de valor intelectual. Mas amadureci.”

Mais informações sobre o ciclo de palestras Humanas em Sociedade: Transpondo os muros da academia: http://gehs.com.br