São Paulo (AUN - USP) - Da década de 60 para os dias de hoje o potencial eólico diminuiu muito. Associando isso ao aumento da chuva, que dificulta o transporte dos sedimentos pelo vento, tem-se uma das principais razões dos campos de dunas, estudados por Vinícius Ribau Mendes em sua dissertação de mestrado, estarem se estabilizando. Formado no Instituto de Geociências (IGC) da USP, o geólogo pesquisou, nos últimos dois anos, a formação e a estabilização de dunas na região litorânea de Santa Catarina, entre Ouvidor e Florianópolis.
Devido às condições muito específicas em que esses depósitos se formam, pode-se imaginar que momentos como esse já existiram outras vezes. “As dunas se formam em períodos em que o nível do mar é estável e o clima é favorável, elas praticamente nascem predestinadas a serem estabilizadas.”
É possível notar que, na natureza, mudanças cíclicas são freqüentes: “Quando a gente começa a estudar geologia na escala de tempo que ela abrange, começa-se a perceber que o normal é a mudança”. Assim, Vinícius coloca que é preciso aceitar as mudanças como algo natural. “Ao invés de ficar culpando uma coisa ou outra, a gente deveria estudar as transformações, observar em que circunstâncias elas ocorrem para entender como elas se repetirão e se planejar para isso.”
Ele ainda aponta que o ser humano pode, sim, acelerar ou retardar alguns processos da natureza. Entretanto é muito mais válido que pesquisas como a de Vinícius sejam valorizadas para que, quando eventos naturais ocorrerem, exista um preparo e planejamento que impeçam que transformações cíclicas da natureza tornem-se tragédias.
Procedimentos da pesquisa
O foco da pesquisa de Vinícius foi dado por duas perguntas: “Por que esses campos de dunas se formaram e por que eles se estabilizaram?”. A partir disso é possível identificar outras características do local estudado: “Por exemplo, se a gente chega à conclusão que foi um fator climático, começamos a descobrir melhor o clima do passado”, comenta o mestrando.
A primeira etapa é o sensoriamento remoto, no qual, através de fotos aéreas e de satélites, encontram-se lugares onde existem ou existiram dunas. “A partir dessas imagens e da utilização de softwares específicos que nos possibilitam criar modelos 3D do relevo, marcamos os locais onde serão feitas as pesquisas de campo.”
Em um segundo momento, o geólogo dirigiu-se aos cinco campos de dunas que foram foco de sua pesquisa: dos Ingleses, da Joaquina, Enseada da Pinheira, de Garopaba e do Ouvidor. Uma vez nessas regiões, Vinícius coletou uma amostra de sedimentos que não estão expostos à luz do sol, para que depois, com equipamentos específicos se identificasse há quanto tempo essa amostra estava soterrada.
Além disso, ele estudou a cronologia desses depósitos por meio de fotos aéreas de diversas épocas. “Consegui fotos de 1938, de 1957 e de 1978 de um mesmo lugar. O interessante dessa periodicidade é que nelas é possível ver um campo de dunas nascer e morrer”.
Ao buscar os fatores que influenciam tanto a formação quanto a estabilização das dunas, Vinícius consultou registros meteorológicos desde 1911. “Então, eu consegui comparar pelo menos os dados de chuva e vento com a evolução dos campos de dunas registrada nas fotografias.”
A pesquisa de Vinícius faz parte de um projeto maior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que busca investigar campos de dunas em todo o País. Dois professores estão guiando o trabalho: André Oliveira Sawakuchi e Paulo César Fonseca Giannini, orientador do mestrando.