São Paulo (AUN - USP) - Muito antes do surgimento dos telecursos e do ensino a distância os meios de comunicação de massa já eram utilizados para fins educativos. É o que prova tese de doutoramento de Patrícia Coelho da Costa, intitulada Educadores do Rádio: concepção, realização e recepção de programas educacionais radiofônicos (1935-1950). O trabalho de Patrícia Coelho da Costa se propõe a resgatar a história dos programas educativos produzidos por emissoras cariocas durante o período conhecido com Era do Rádio.
A ideia para a pesquisa surgiu com a leitura dos livros da coleção Viagens através do Brasil, do radialista e educador Ariosto Espinheira. Os livros trazem o conteúdo apresentado no programa Viagem através do Brasil, produzido por Espinheira e transmitido pela Rádio Jornal do Brasil entre 1936 e 1937. Voltada para público infantil, a atração propunha-se a apresentar noções de história, geografia, folclore e cultura brasileira através de narrativas de viagens pelo País.
Além de Viagem através do Brasil, a tese analisa a trajetória de outros três programas da produzidos no período: Ouvindo e Aprendendo, Tapete Mágico da Tia Lúcia e Biblioteca do Ar. Ouvindo e Aprendendo (Rádio Nacional e Mayrink Veiga) dava dicas de gramática e noções de cultura geral para adultos. Tapete Mágico da Tia Lúcia (Rádio Nacional), apresentado por Ilka Labarthe, usava de narrativas para levar crianças a viagens através da história de outros países. Já a temática do elogiado e bem-sucedido Biblioteca do Ar (Rádio Nacional e Mayrink Veiga), apresentado pelo imortal da Academia Brasileira de Letras Genolino Amado (primo do escritor baiano Jorge Amado), era a literatura. Biblioteca do Ar foi o que mais sofreu censura. Patrícia conta que na leitura dos roteiros do programa pôde identificar “palavras cortadas” e “carimbos do DIP” (Departamento de Imprensa e Propaganda – órgão censor da Ditadura Vargas). O locutor não podia fazer referência a trechos de obras literárias que retratavam a nudez ou práticas condenadas pela moral e pelos bons costumes da época.
Memória radiofônica
A trajetória dos pioneiros da radiodifusão educativa Ariosto Espinheira, Ilka Labarthe e Genolino Amado começou nos estúdios da Rádio-EscolaMunicipal (PRD5). Fundada por Edgar Roquette-Pinto em 1934, durante a gestão de Anísio Teixeira na Diretoria Geral de Instrução Pública do Rio de Janeiro, a programação da PRD5 era voltada para as escolas cariocas e tinha como lema “ensinar para educar; educar para servir a pátria”.
Resgatar a memória desses importantes radioeducadores, hoje esquecidos ou condenados a permanecer à sombra de Roquette Pinto, é um dos objetivos do trabalho de Patrícia, que pretende continuar suas pesquisas sobre a radiodifusão educativa com foco em outros períodos da história do Brasil.