São Paulo (AUN - USP) - Nas últimas décadas, a cidade do Recife apresentou uma diminuição no índice pluviométrico, bem como uma forte contaminação e salinização de suas águas subterrâneas. Visando estudar as causas desses processos, iniciou-se no ano passado o projeto Coqueiral. “Na década de 90 houve uma sequência de secas que fez com que a cidade tivesse água apenas algumas horas por semana, então foram perfurados centenas de poços para que eles tivessem fontes alternativas de água”, comenta o professor Ricardo Hirata, do Instituto de Geociências (IGC).
O professor, que participa da pesquisa, explica que esses poços são em sua maioria ilegais, problema presente na exploração de água subterrânea por todo País. Essa não-regulamentação e não-fiscalização fazem com que muitos desses poços estejam contaminados, ou tenham sofrido processo de salinização.
O Coqueiral pretende, além de identificar os mecanismos de contaminação dos aqüíferos, avaliar como a população local se apropria da água e a relação do problema ambiental com a ocupação social. “É um projeto multidisciplinar que envolve sociólogos, documentaristas, geólogos e engenheiros.”
A pesquisa coloca em questão o grande problema de abastecimento urbano presente em diversas métropoles do País: “A segurança hídrica e o impacto que isso causa em regiões urbanas”. Ricardo aponta que a maioria dos poços privados das grandes cidades são ilegais, e que, se houvesse uma melhor fiscalização, o abastecimento público não supriria a demanda.
Além disso, os usuários não conhecem as leis e não estão apropriados de seus direitos e da procedência da água que consomem. “Você não sabe se existe algum poço ilegal influenciando o funcionamento do seu poço legalizado, e você não vai atrás de saber, assim, como não existe um conflito aparente, você não vai reivindicar os seus direitos.”
Dessa forma, a população não conhece o potencial hídrico de sua cidade, nem sabe de onde vem a água que consome, nem como avaliar a sua qualidade, “então, mesmo com a universidade produzindo pesquisas sobre o assunto, o problema é que elas não chegam à sociedade”.
Sem se apropriar das causas reais do problema não existe uma pressão para que o Estado se posicione e, então, a falta de controle permanece, “é um ciclo que precisa ser quebrado por alguma força dentro desse sistema”.