São Paulo (AUN - USP) - Um novo estudo de caso conduzido por pesquisadores do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) quer descobrir até que ponto a irradiação pode ser utilizada para restaurar com maior rapidez e eficiência folhas de papel consumidas pela ação de fungos, insetos e bactérias.
Após integrar uma parceria entre o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e o Arquivo Público do Estado de São Paulo para o trabalho de restauração de documentos públicos danificados durante as enchentes que atingiram o município de São Luiz do Paraitinga, em 2010, Fernanda Auada busca agora um ponto de equilíbrio capaz de permitir o uso de radiação sem que fibras de celulose sejam degradadas.
Contaminados com a água de rios e canais de esgoto, os arquivos da prefeitura da cidade não puderam ser recuperados a partir de procedimentos de irradiação. Isso porque somente agora esse processo deve ser testado por meio desse novo estudo, que deseja “avaliar o impacto da radiação na celulose que constitui os documentos”.
Fernanda explica que a celulose se degrada conforme a taxa de irradiação aplicada. Assim, a ideia seria encontrar um ponto ótimo em que fungos possam ser mortos sem a consequente degradação do papel. “Imagine um material que ficou dias sob a água proveniente de esgotos e de rios podendo voltar a ser manuseada com segurança e de forma útil”, comenta.
Ao todo, foram necessários cerca de oito meses para que a equipe do Arquivo Público do Estado de São Paulo, com o apoio do Núcleo de Conservação e Restauro do Senai, recuperasse 800 pastas contendo documentos públicos da prefeitura de São Luiz do Paraitinga.
Contudo, Fernanda especula que, com o emprego adequado de irradiação, esse tempo de trabalho para eliminação de fungos pode ser reduzido para poucas horas. “Numa situação de emergência como essa é preciso analisar o custo-benefício. Com esse método posso alcançar uma redução de custo de mão de obra e economizar o emprego de recursos materiais e instrumentais.”
Ela conta que “foram oito meses de trabalho e a vida de muita gente estava em jogo”. Ao todo, “havia 14 metros enfileirados de diferentes tipos de papel, datados da década de 1970 até hoje”.
Com a danificação de todo esse volume documental, “as pessoas de lá perderam qualquer referência sobre a vida delas e praticamente deixaram de existir enquanto civis. Todos os registros foram perdidos. Restou apenas o mais forte e durável, que é o suporte de papel”.