ISSN 2359-5191

22/05/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 32 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Repressão comprova a importância da sexualidade no teatro

São Paulo (AUN - USP) - É bem conhecida no meio teatral a frase da atriz Cacilda Becker de que “não existe teatro sem fita crepe”. No entanto, é uma correção dessa frase feita pelo ator e diretor Marcelo Drummond que se aproxima da pesquisa feita por Ferdinando Martins, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), sobre a relação e a história entre sexualidade, gênero e censura no teatro brasileiro. Segundo Drummond, “não existe teatro sem viado e fita crepe”.

Ferdinando defende que a sexualidade não é um tema acessório do teatro, mas uma questão estruturante e integral, dada pela própria importância do corpo nessa arte. Para provar isso, sua pesquisa redesenha a história do teatro paulista pela abordagem da repressão às questões de gênero e sexualidade, tanto pela censura institucionalizada pelo regime militar, quanto pela repressão moral sempre presente.

Um exemplo é o Teatro de Arena, conhecido pelo seu engajamento político durante a ditadura militar, mas que frequentemente caía em preconceitos. Na peça Arena conta Zumbi, por exemplo, para ridicularizar os portugueses que aludiam ao regime militar esses eram retratados como afeminados.

Já o Teatro Oficina era capaz de equacionar o engajamento político com uma crítica à heteronormatividade. Sua famosa interpretação de O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, é um exemplo de crítica ao sistema político e econômico vigente na época e à moral burguesa. Não é à toa que a peça foi cirurgicamente censurada por órgãos estaduais. Foi também uma atriz do Teatro Oficina, Ítala Nandi, que criou comoção ao aparecer na capa da revista Realidade falando sobre liberdade sexual com a manchete: “Esta mulher é livre”.

Outro exemplo de censura é a peça Santidade, de Zé Vicente. Ela foi censurada diretamente pelo presidente Costa e Silva por, num rápido diálogo, insinuar a presença de homossexuais nas Forças Armadas.

No entanto, mesmo após a redemocratização, o assunto continua vítima de repressão e preconceitos. O chamado teatro do besteirol, famoso nos anos 80, apesar de apresentar a mulher cada vez mais independente, ainda tratava a homossexualidade como uma questão ridicularizada.

Hoje, existe um avanço que ainda coexiste com pensamentos conservadores. Atualmente, convivem entre si peças que retratam a mulher como um ser independente (como as do Teatro Oficina) e as que ainda a mostra como submissa aos homens (caso de O inferno sou eu).

O mesmo acontece com homossexuais: é possível assistir a peças que tratam a homossexualidade como uma característica normal e não definidora de caráter (peça Tanto, encenada pelo grupo Satyros),assim como peças que a tratam como fonte gratuita de humor (O amante do meu marido).

De acordo com o professor, esse recorte histórico não só comprova a estruturação do teatro em torno da sexualidade e do gênero, mas também mostra o funcionamento da repressão brasileira. “O homossexual censurado e reprimido é sempre aquele que luta por inserção. Os chamados ‘frescos’, sempre fonte de humor, não são censurados”, diz. O mesmo acontece em relação às mulheres. “A prostituta não é censurada desde que esteja sempre sofrendo.”

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