São Paulo (AUN - USP) - O projeto ALIP (Amostra Linguística do Interior Paulista) foi apresentado, na semana assada, pelo professor Sebastião Carlos Leite Gonçalves, do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da Unesp, Campus de São José do Rio Preto. A pesquisa foi coordenada pelo pesquisador entre os anos de 2004 e 2007. A iniciativa é um dos mais recentes esforços para reunir registros da linguagem oral brasileira. A exposição fez parte do projeto Tardes de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
O projeto consiste num mapeamento da fala do interior paulista, ainda pouco contemplado pelos estudos da área de linguística. Para isso, foi registrada a produção oral de 152 informantes de todas as idades e níveis escolares da região. São José do Rio Preto, que concentra 80% da população local, foi a cidade que mais forneceu entrevistados (122).
A variedade de perfis conferiu um caráter mais geral ao banco, já que, segundo Gonçalves, as pesquisas disponíveis até então eram mais específicas. Era o caso do projeto Varsul (Variação Linguística na Região Sul do Brasil), destinado a documentar a fala de pessoas sem diploma universitário no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e do famoso projeto NURC (Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro), que registrava o linguajar de falantes cariocas com nível superior. O professor chama atenção à antiguidade dessas pesquisas, realizadas respectivamente nos anos 80 e 70, e enfatiza a necessidade de ampliar nosso acervo de amostras orais mais recentes.
Visando obter exemplos da fala o mais natural possível, os pesquisadores buscaram envolver os falantes na entrevista, fazendo-os, por exemplo, relatar experiências pessoais, opiniões ou narrativas que tivessem ouvido de terceiros. Outro método bastante aplicado foi a gravação de fala sem o conhecimento do informante.
O ALIP foi a primeira iniciativa do Grupo de Pesquisa em Gramática Funcional, (GPGF) do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce) da Unesp para a criação de um banco de dados próprio. Esse é mais um passo na descrição da língua materna brasileira, ainda muito estigmatizada em contraposição à norma culta. O acervo está disponível no endereço http://www.iboruna.ibilce.unesp.br. Para ouvir as amostras, basta criar uma conta na página eletrônica.