São Paulo (AUN - USP) - Doença de Chagas, Malária, Tuberculose e Leishmaniose ainda fazem parte de pesquisas realizadas na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Universidade de São Paulo (USP). A professora e pesquisadora Elizabeth Igne Ferreira, que trabalha com doenças negligenciadas há 38 anos, explica que apesar de existirem medicamentos para as doenças, muitos deles já estão ultrapassados ou então até hoje apresentam aspectos que podem ser aperfeiçoados.
As doenças negligenciadas geralmente afetam uma parcela da população de menor renda e, por isso, não atraem muita atenção das indústrias farmacêuticas, já que há uma expectativa de baixo retorno financeiro. No entanto, a pesquisadora ressalta a necessidade de investimentos e de maior interesse nessas doenças, pois, algumas delas possuem medicamentos que apresentam efeitos colaterais indesejados ou até mesmo tratamentos muito longos. A Doença de Chagas, por exemplo, já apresenta casos nos Estados Unidos e, além disso, só pode ser tratada em sua fase inicial aguda por dois medicamentos. Caso a doença seja descoberta em sua fase mais avançada ela já pode ser considerada crônica e incurável.
As pesquisas de Elizabeth visam melhorar a propriedade de fármacos existentes ou então descobrir moléculas que podem dar origem a novos fármacos. Para a Tuberculose, isso significa renovar medicamentos que são utilizados há um bom tempo, além de terem a necessidade de um longo tratamento que perde a adesão dos pacientes. No caso da Malária, existe uma variedade maior de remédios, porém o problema está na resistência do protozoário parasita de gênero Plasmodium. A Leishmaniose Viceral, também chamada de úlcera de Bauru, é considerada pela Organização Mundial de Saúde uma doença extremamente negligenciada e os poucos medicamentos existentes possuem propriedades tóxicas.
Apesar do trabalho de Elizabeth ser somente o primeiro passo de um caminho que pode durar uma média de 20 anos até os medicamentos chegarem ao mercado, a professora ressaltou que recentemente houve interesse de uma indústria farmacêutica inglesa nas pesquisas.A indústria também já firmou um convênio com a universidade na área de doenças negligenciadas. Isso se deve à crescente aproximação entre academia e indústrias devido à disposição e disponibilidade de ambas as partes.
A expectativa é que o novo convênio desperte interesse de outras indústrias farmacêuticas. A denominação “doenças negligenciadas” só expressa a situação dessas enfermidades diante do mercado, pois há comprovações de aumento de casos em algumas delas e a população afetada carece de medicamentos acessíveis, efetivos e atualizados para exterminar algumas das doenças que popularmente não apresentam muitas ameaças.