ISSN 2359-5191

30/05/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 34 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Não existe autonomia em produção científica, defende professora da FFLCH

São Paulo (AUN - USP) - Para Rita Cruz, pesquisadora do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH/USP), a contradição entre política acadêmica e autonomia no que se refere às pesquisas é um grave problema. Ela acredita que a autonomia devia ser um pré-requisito de todas as políticas da Universidade. Isso ocorre devido à escassez de recursos para se realizar pesquisas no Brasil. Tanto as universidades, quanto as agências de fomento, como o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo) têm seus interesses. O dinheiro, dessa forma é investido segundo os interesses dessas instituições, que, muitas vezes, estão ligadas a políticas de Estado.

A professora também acredita que “a noção de autonomia na produção científica também deve ser ‘geografissizada’”. Comparativamente com outras universidades do País, os professores e alunos da USP têm bom acesso a recursos. “O cotidiano da nossa pesquisa científica está sendo fortemente determinado pelas agências de fomento, principalmente o do CNPq. Para a professora o sistema implementado pelo CNPq criou uma geração de pesquisadores produtivistas, ou seja, que publicam muito, mas que agregaram pouco ao conhecimento científico.

O debate Desafios à autonomia da produção científica frente à política acadêmica e das agências de fomento fez parte da VIII Semana de Ciências Sociais da USP, cujo tema é Saber(es) em questão: as relações entre produção de conhecimento, poder e política. O evento foi idealizado e realizado por alunos do curso de Ciências Sociais. Também participaram dele o professor de Ciências Sociais da PUC de Campinas, Frederico Henriques, e o estudante o militante da Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação Social, Roberto Oliveira.

Outro problema que foi ressaltado por Oliveira é a produção de conhecimento segundo as demandas locais de mercado. Um exemplo levantado por ele é o financiamento da Petrobras à Universidade Federal de Sergipe, cujo estado é o quarto maior produtor de petróleo do Brasil. Esse incentivo é dado para que essa Universidade invista nos setores ligados ao petróleo. A demanda local do mercado, dessa forma, também é um fator limitante autonomia nas ciências.

Frederico Henriques fez parte da criação dessa semana quando estudava na USP. Segundo ele, ela não teria sido possível sem a greve que ocorreu em 2002 e toda mobilização dos alunos que, em 2004, realizou a primeira edição do evento. Dessa forma, a Semana de Ciências Sociais da USP é uma demonstração da falta de autonomia e de vitória dos alunos, não na produção científica, mas em relação à política universitária como um todo. Segundo Henriques, que fez seu mestrado sobre a Fapesp, as agências de fomento foram criadas pouco depois do esquema de cátedras, para que a comunidadecientíficas tivesse mais autonomia em relação ao Estado. Entretanto, para o pesquisador, estão integradas a um sistema elitista de universidade.

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