ISSN 2359-5191

01/06/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 36 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Comissão da Verdade: não é necessário punir, mas é preciso registrar

São Paulo (AUN - USP) - “A lei de anistia no Brasil é um desastre, pois ela não permite esse ‘lembrar’ com todas as letras, com todas as cores. Não é preciso punir, mas é preciso lembrar.” Para a professora de Antropologia da USP Ana Lúcia Schritzmeyer, os direitos humanos, área em que milita, é um campo pedagógico. Quanto ao caso da Comissão da Verdade, ela questiona se o fator considerado sua maior deficiência, a impossibilidade de punir, talvez seja uma de suas melhores qualidades. “Se nós pensarmos o campo dos direitos humanos como um campo de diálogos, e não necessariamente como um campo que aponta soluções, nós justamente podemos pensar que novas soluções ainda sequer imaginadas possam ser construídas, soluções que escapem do registro da punição.”

Outro ponto levantado pela professora é o de que se ignoram problemas do nosso presente que se assemelham a fatos da ditadura, os quais fazemos questão de relembrar hoje, o que é um paradoxo. “Nesse momento, certamente alguém está sendo torturado em alguma delegacia ou presídio brasileiro. O que eu acho interessante de pensar sobre isso é como não se consegue aceitar certas coisas do passado, mas suportamos certas coisas do presente que são muito parecidas com as do passado”. Para a professora, isso se deve ao fato de que o Brasil vive uma época nebulosa, de ambiguidade, devido à democracia estar ainda em construção.

Essa formação da cultura democrática no País, para a professora, se reflete na USP. “O Brasil não tem uma democracia plenamente instaurada, nós temos muitas instâncias intransparentes, a Universidade padece disso, sem dúvida. Nós temos estatutos e regulamentos universitários que precisam ser revistos e eu acho que isso deve ser feito de forma mais participativa possível e existem poucos canais na Universidade para uma efetiva participação de todos os setores.”

No campo das Ciências Sociais, Ana Lúcia pensa que os profissionais dessa área devem ser mediadores para a construção de debates na sociedade, que não é homogênea e, além disso, devem criar novas formas de soluções. “Eu acho que nós temos o papel histórico fundamental nesse momento no Brasil e no mundo: o de pensar formas alternativas de solução de conflito.” Ela defende a formação de equipes para lidar com esse tema, formadas por psicanalistas, psicólogos, cientistas sociais e profissionais de diversas outras áreas, em vez de deixar tudo a cargo das instituições governamentais. “Quando se joga na mão do judiciário, ou do legislativo, a gente se exime um pouco de pensar ‘como é que eu repondo por isso em meu pequeno ramo de atuação?’”, diz aos cientistas.

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