São Paulo (AUN - USP) - O quadro do setor farmacológico demonstra que, nos últimos anos, existe uma forte tendência de os antibióticos tornarem-se cada vez menos efetivos. Isso se agrava por uma série de fatores. Entre eles, a interrupção do tratamento quando há uma aparente melhora na infecção. Nesses casos, a maioria das bactérias já morreu, mas sobrou aquela minoria mais resistente. É justamente essa minoria mais resistente que vai se multiplicar e causar uma infecção consideravelmente mais forte.
Diante da situação de proliferação dessas chamadas bactérias multi-resistentes, é necessária a utilização de fármacos cada vez mais efetivos (o fármaco é o princípio ativo do medicamento; o medicamento é a forma com que esse se apresenta: comprimido, gotas). A OMS já se mobiliza, preocupada com o verdadeiro boom dessas bactérias. Entretanto, o surgimento de um novo fármaco é um processo extremamente complicado e incerto. Em virtude disso, desenvolve-se cada vez mais a pesquisa e o processo de otimização de fármacos, ou seja, a modificação de um fármaco já existente, para se criar um com maior funcionalidade e menor toxicidade.
O Professor Leoberto Costa Tavares, graduado como farmacêutico bioquímico, com mestrado e doutorado na área de fármacos e medicamentos e com livre docência, desenvolve pesquisas a respeito da otimização de fármacos no Laboratório de Planejamento e Desenvolvimento de Fármacos, na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Ele ressalta a importância da modificação e otimização desses, devido à dificuldade de se criar um novo fármaco: “gasta-se em média 500 milhões de dólares, não havendo certeza quanto ao sucesso e quanto ao risco de inserção desse no mercado, e ainda sem garantia de sua aprovação definitiva”. Os riscos a que o professor se refere relacionam-se a possíveis falhas nos testes dos ligantes (ligantes são “candidatos a fármacos”, testados farmacológica, clínica e toxicologicamente por órgãos competentes, antes de serem ou não aprovados). Ele lembra o desastre farmacêutico com a talidomida. A talidomida possui dois isômeros, um deles com efeito terapêutico, e o outro com efeito que provoca má formação fetal, ou seja, teratogênico. Devido a insuficientes testes com a talidomida quando da sua aprovação como fármaco, houve uma onda de problemas teratogênicos pelo mundo.
O professor Leoberto ressalta que há possibilidade de descoberta de novos fármacos em um campo pouco explorado: "ainda não conhecemos quase nada a respeito do efeito das plantas e de sua possibilidade de nos fornecer novos fármacos". Sua atual pesquisa baseia-se na otimização de fármacos que possam combater a bactéria multi-resistente Staphylococcus aureus. Está sendo usado como protótipo um quimioterápico (que difere de um antibiótico por ser totalmente sintético), e os resultados vêm sendo satisfatórios e promissores, segundo Leoberto. Os testes, por enquanto, só estão sendo realizados in vitro.
Ele lamenta que ainda haja poucos grupos desenvolvendo pesquisas nesse campo no Brasil. Diz que, nos países de primeiro mundo a otimização de fármacos é uma realidade sólida e eficiente. O professor Leoberto acrescenta ainda que essa pesquisa tem maior chance de prosperar no setor privado, pois no setor público faltam recursos e tempo. Ele espera que mais estudantes possam se especializar nessa área, pois ela é extremamente necessitada de pesquisadores. “Infelizmente, a maioria deles busca outras áreas por uma pressão mercadológica muito forte”, conclui.