São Paulo (AUN - USP) - Em tempos de desindustrialização no Brasil, ocasionada pela extrema dependência do mercado de commodities e dificuldade na retenção da taxa de juros por parte do governo e o recente conflito entre bancos privados e estatais, a discussão sobre a validade do capitalismo reacende. Desde a crise econômica de 2008, debates com relação ao sistema econômico vigente no mundo hoje têm se reascendido em diversos setores da sociedade, permeando movimentações sociais como Occupy Wall Street e a Primavera Árabe e trazendo à tona até mesmo as ideias do julgado por muitos obsoleto, Karl Marx.
Segundo o professor do curso de economia da Unicamp Plínio Sampaio Jr. (cujo pai foi candidato à Presidência da República pelo PSOL na última eleição), o Brasil está, além de sofrer desindustrialização, perdendo instrumentos de controle da economia: capacidade de definir uma política econômica a partir de dentro e de manejar instrumentos de política econômica, como taxa de juros e de câmbio. Na leitura dele, “nós estamos indo em direção à barbárie”. “A ortodoxia vai ocultar os nossos problemas, os problemas do modo de produção, a especificidade do capitalismo quando ele se apresenta de maneira mais brutal.”
Consonante com as ideias do colega, a professora de economia da USP Leda Paulani acredita que a insistência no modelo ortodoxo de pensamento econômico é uma das maneiras pela quais os detentores de poder no mundo tentam mantê-lo. Para ela, a reafirmação desse não tem como base fatores empíricos e necessidades da população. “A ciência [econômica], no fundo, é uma ciência vendida, não é ideologia, é impulso, é discurso do capital”, defende. Dessa forma, o pensamento econômico vigente não se encaixaria, nem mesmo, na definição de “ideologia” pois não está pautado em um conjunto de ideias comuns, mas, sim, na impulsividade e voracidade que teria o sistema vigente.
No debate, que ocorreu na Semana de Ciências Sociais, realizada recentemente na FFLCH (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP), os professores também criticaram o uso de manuais nos cursos de economia, pois, segundo eles, esse uso restringe o pensamento dos alunos, tirando de seu campo de visão muitas das implicações sociais da movimentação da economia e da postura econômica dos Estados. “O manual cumpre o papel do pensamento dominante para a periferia, ele reproduz o colonialismo cultural”, diz Sampaio, que acredita que isso acaba por transmitir um pensamento no qual a racionalidade econômica é uma realidade de adaptação da economia periférica aos imperativos e exigências do capital financeiro internacional.