São Paulo (AUN - USP) - Em palestra recentemente realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), a antropóloga da Unicamp Regina Müller falou sobre o documentário Dzi Croquettes e a sua relação com o grupo de mesmo nome formado por 13 homens que marcaram a década de 70 com espetáculos inovadores, que em plena ditadura questionavam padrões estéticos e o limite entre arte e realidade.
“Não somos homens, não somos mulheres, somos gente”, era assim que se definiam o coreógrafo americano Lennie Dale, o autor Wagner Ribeiro de Souza, e os bailarinos Cláudio Gaya, Cláudio Tovar, Ciro Barcelos, Reginaldo di Poly, Bayard Tonelli, Rogério di Poly, Paulo Bacellar, Benedictus Lacerda, Carlinhos Machado e Eloy Simões.
“A experiência artística dos Dzi Croquettes pode ser vista como um movimento comportamental, existencial, político, filosófico”, comenta Regina, que sempre esteve muito próxima do grupo, seja como espectadora, seja em um segundo momento como uma das integrantes das Dzi Croquettas.
Outro diferencial do grupo levantado pela antropóloga era como a arte dos “Dzi” ultrapassava os palcos. “A proposta deles ia além, estava no viver em grupo, no convívio comunitário, era um projeto de vida, de sociabilidade que se articulava com a criação estética.”
As mulheres
Foi desse limiar tênue existente entre a vida pública e a vida privada do grupo que muitas tietes foram se aproximando. Eram mulheres que sempre iam nos seus espetáculos, e como chegavam bem antes do início o grupo começou a convidá-las para participarem do aquecimento.
Partindo disso, os rapazes resolveram desenvolver uma apresentação com essas tietes, que resultou nas Dzi Croquettas. O grupo de mulheres refletia um dos ideais dos rapazes: “Nós todos somos artistas, todos nós podemos”. Assim, as “Dzi” incluíam mais de 20 mulheres, de diversas origens. “O grupo era formado desde a garçonete semi-analfabeta que servia eles na lanchonete, por estudantes, por amigas, entre outras.”
Entretanto, o grupo das mulheres não obteve sucesso. “Nós vivíamos uma fantasia de que é possível, só que sem a estrutura, sem a disciplina que a cena exige na relação com o público”. Elas ficaram em cartaz no Teatro 13 de Maio. Porém, obtiveram apenas prejuízo. O motivo disso para Regina foi em primeiro lugar o fato de haver uma cumplicidade entre os rapazes em palco que não existiu entre as mulheres.
Outro diferencial significativo apontado por ela foi a presença do Lennie Dale, o coreógrafo americano que participava dos Dzi Croquettes. “Ele tinha aquela rigidez da coreografia e da cena, um profissionalismo tanto na estrutura de cada integrante quanto no espetáculo como um todo, permitindo que eles possuíssem maior dinâmica e desenvoltura para o improviso e para se relacionar com o público.”