ISSN 2359-5191

16/06/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 45 - Educação - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Antropólogo inglês discute homossexualidade na USP

São Paulo (AUN - USP) - Peter Fry, intelectual inglês naturalizado no Brasil, participou, recentemente, da 8ª Semana de Ciências Sociais realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). A semana, que possui como objetivo maior promover diálogo entre sociedade e a academia, proporcionou uma discussão com o atual professor de Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em torno do tema de sexualidade.

O filme Direito de amar (A Single Man), de 2009, foi utilizado como recurso para enriquecer o debate, já que sua história retrata a realidade de um professor homossexual de classe média alta na década de 60. O professor das Ciências Sociais Júlio Assis Simões, que também possui trabalhos em torno da questão da sexualidade e gênero, ajudou a orientar a conversa após a passagem do filme.

A maioria das pesquisas de Peter Fry analisa a questão racial no Brasil e possui grande influência da cultura africana e do Candomblé. No entanto, a homossexualidade assumida do professor também gerou resultados para os debates sobre esse assunto. Ao final do filme, Fry relatou algumas de suas próprias experiências ao crescer em meio à sociedade britânica dos anos 60. A imagem da homossexualidade como pecaminosa era frequente e a identidade dos gays,/i> era, na maioria das vezes, mantida secreta.

Até o final da década de 60 e início da década de 70, relações homossexuais, predominantemente entre homens, eram consideradas ilegais em países como a Inglaterra e os Estados Unidos. Fry resume que descobrir-se gay, na época, era como “crescer com desejos criminais”. O antropólogo também conta que elementos e símbolos de identidade eram criados para que houvesse uma discreta distinção entre heteros e homossexuais. Dessa forma, surgiam “redes de amizades” guiadas por características que abrangiam desde a vestimenta até a literatura e locais de encontro.

A conversa seguiu de forma dinâmica e contou com a presença de falas e perguntas de estudantes, majoritariamente do curso de Ciências Sociais. Após falar de seu passado, Peter Fry também contextualizou o homem moderno e a homossexualidade na sociedade atual. Se antes havia uma necessidade de se esconder por trás de uma masculinidade construída, hoje em dia há um processo de “escancarar o armário”, como o próprio professor diz. A desinibição da figura do homossexual, que pode ser vista como uma conquista, também gerou consequências inesperadas como a volta de atitudes e pensamentos característicos de skinheads. Há diversos casos de espancamentos alheios a casais gays que estavam apenas de passagem pelas ruas de cidades como a própria São Paulo, famosa por sua pluralidade e diversidade sociocultural.

Referências literárias e obras que retratassem a realidade homossexual em diferentes épocas foram citadas ao longo do debate da Semana de Ciências Sociais e a própria reflexão entre os professores da UFRJ e USP tocaram pontos de polêmica e interesse para quem estava presente no evento.

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