ISSN 2359-5191

22/06/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 49 - Sociedade - Faculdade de Educação
Seminário discute as desigualdades causadas pelo racismo

São Paulo (AUN - USP) - Na primeira mesa do seminário Diferenças, desigualdades e educação: em busca de novas abordagens, Lia Vainer Schucman, doutora em Psicologia Social pela USP, e Daniele Kowalewski, doutoranda em Educação da Faculdade de Educação (FE) da USP, discutiram o racismo na sociedade brasileira e as desigualdades que ele gera na educação. A mesa ocorreu em 12 de junho, no primeiro dia do seminário organizado pelos professores da FE Ocimar Munhoz Alavarse, Fabiana Augusta Alves Jardim e Kimi Aparecida Tomizaki.

Ambas as palestrantes usaram os assuntos abordados por suas teses de doutorado para desenvolver o tema do racismo e relacioná-lo com a educação. Lia, que defendeu sua tese recentemente, falou sobre o conceito de branquitude, lugar de poder dos brancos na sociedade brasileira que se estrutura no racismo. “Não é a brancura que dá esse poder, não é a cor branca, é o exercício do poder, a branquitude.” A porcentagem de alunos negros na USP é de 9,8%, bem menor do que os 45% de pretos e pardos da população brasileira. “Nos cursos relacionados à posições de poder como medicina, direito e engenharia essa porcentagem é ainda menor”, destacou Lia.

Na sua pesquisa de doutorado Lia entrevistou 40 pessoas, todas brancas, “desde ex-donos de fazendas até mendigos”. Todos seus entrevistados admitiram algum tipo de privilégio e “todos se utilizam dos privilégios da branquitude em algum momento da sua vida”. Apenas um dos entrevistados é a favor de cotas raciais.

Lia fala de como a posse da gramática pode ajudar a reverter esse quadro: “Falar negro e branco com naturalidade, por exemplo”. Outras formas de desconstrução dessa estrutura que ela identifica são que os brancos se admitam racializados (e não como o que é normal, o padrão) e reconhecer o racismo como um problema atual, não apenas como herança cultural. “Vejo o movimento negro como uma forma de mudar essa estrutura, é o negro que pode racionalizar o branco. Dizer para ele ‘olha, você branco tem raça!’.”

Daniele falou sobre o papel da escola em trazer justiça social e democracia. A escola é vista como o lugar em que a justiça será possível, o problema são os desentendimentos sobre o significado desse conceito. O desentendimento sobre o que é justiça traz uma série de demandas diferentes para a escola. “A gente fala ‘ah essa escola lida com as diferenças, aqui a gente lida com as diferenças’, mas aí você pergunta quais as diferenças são privilegiadas?”

Para desenvolver sua tese de doutorado, ela analisou documentos históricos oficias do governo federal sobre a educação e percebeu uma semelhança entre eles: todos admitiam a necessidade de se superar o mito da democracia racial brasileira, conceito que os próprios textos atribuíam a Gilberto Freire (apesar dele nunca ter usado o termo). Ela também tratou do tema da miscigenação: “O problema que viam no Brasil, o medo de uma revolução negra semelhante à do Haiti, seria resolvido em até três gerações através da miscigenação, através do branqueamento da população”.

Depois de suas exposições, os palestrantes responderam à perguntas do público que assistia ao seminário. A aluna do quarto ano de Pedagogia Tamiris Nascimento de Souza elogiou o tema do doutorado de Lia porque ela estudou o seu semelhante, e não o outro, como a academia “majoritariamente branca” costuma fazer, mas criticou o fato do curso de Pedagogia da FE-USP ignorar a Lei 10.639, de 2003, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental. O curso de pedagogia, responsável pela formação dos professores nesses anos, não tem nenhuma disciplina que atenda essa demanda. “Se o aluno entrar na faculdade e não quiser tocar no assunto, ele vai sair daqui sem mudar seu pensamento, ele vai sair daqui racista.”

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