ISSN 2359-5191

24/06/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 51 - Educação - Faculdade de Educação
O que Alice tem a ensinar aos professores?
Pesquisadora analisa obra de Lewis Carroll pelo viés da psicanálise e tira conclusões para a educação

São Paulo (AUN - USP) - “No interior da toca do Coelho, Alice não se depara com um mundo de fantasia, mas com um mundo real, no qual a linguagem não diz tudo. Ela lida com o Outro que é sempre imprevisível. É a experiência do próprio sujeito”, explica Juliana Radaelli, que, em maio, defendeu sua tese de doutorado intitulada O Nonsense no País das Maravilhas: o que Alice ensina à educação, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP).

O trabalho propõe uma articulação entre psicanálise, literatura e educação. Articulação esta que Juliana considera complicada, apesar de já tê-la feito em seu mestrado, quando se debruçou sobre a literatura de Clarice Lispector em busca do sujeito psicanalítico.

Agora, no doutorado, Juliana retomou as obras mais famosas do escritor inglês Lewis Caroll (1832-1898) – Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho –, no contexto das teorias freudiana (Sigmund Freud, 1856-1939) e lacaniana (Jaques Lacan, 1901-1981) e procurou identificar o que aparece de nonsene nos registros da psicanálise.

Diante do Outro
Juliana afirma que, por meio dos jogos de linguagem e dos chistes, o texto de Lewis Carroll mostra que o campo da linguagem se sobrepõe ao sujeito. “Estamos no beco sem saída da linguagem”, explica.

A experiência de Alice no País das Maravilhas é a experiência do sujeito diante do Outro. O Outro, na teoria lacaniana representava, inicialmente, o campo total dos significantes. Posteriormente, Lacan concluiu que o Outro era também era um sujeito desejante e “castrado”, apresentava falhas e devia ser interpretado pelo sujeito. É aí que Alice se perde.

Ao cair na toca do Coelho Branco, Alice cai pelas fendas do simbólico (campo da linguagem). O simbólico não diz tudo e, ao relacionar-se com o Outro, Alice se depara consigo mesma, explica.

Segundo Juliana, as aventuras de Alice no campo da linguagem não se inserem no plano do imaginário, mas no plano do real, que, de acordo com a teoria lacaniana, é aquilo que ainda não foi representado, um campo carente de organização.

Diante do real
Mas o que Alice ensina à educação? Juliana responde a essa pergunta afirmando que Alice pode ensinar o professor a não recuar diante do real.

Como psicóloga, ela afirma que o número de crianças encaminhadas a consultórios psicológicos por apresentarem problemas na escola como dificuldade de aprendizagem ou distúrbio de déficit de atenção (DDA) é cada vez maior. Os professores tendem a buscar respostas para os impasses que encontram na sala de aula em outros campos do saber. Por exemplo: exigem que a psicologia explique por que seus alunos não aprendem.

Juliana conclui que a psicanálise não deve se colocar como mais uma teoria que diga ao professor o que fazer, pois essa posição pode barrar sua criatividade para lidar com as situações encontradas em sala de aula. Assim como Alice não recua diante dos seres estranhos que encontra, o professor não deve recuar quando o real atravessa seu plano de aula.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br