São Paulo (AUN - USP) - O freelancer é o jornalista autônomo, que não tem vínculo fixo com nenhuma empresa, mas realiza trabalhos pontuais para elas. Uma pesquisa da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP procurou traçar um perfil desse profissional, analisando seu discurso acerca do seu trabalho. Rafael Grohman, realizador da dissertação de Mestrado, verificou que a classe é ajustada ao novo capitalismo, mas tem dificuldade de lidar com a exclusão, com o tempo e com a forma que o trabalho domina sua vida.
As amostras estudadas foram de oito freelancers, primeiramente, com entrevistas individuais e, depois, dez pessoas dessa classe para conversas coletivas. Apesar de partilharem uma visão antiga de o jornalista como herói da sociedade, segundo Grohman, ele é oposto ao jornalista de redação: a flexibilidade do freelancer para trabalhar e o individualismo da sua profissão fazem com que, diferentemente da outra classe, ele seja compatível com o sistema capitalista próximo ao toyotismo que existe hoje no mundo jornalístico.
Entretanto, o estudo orientado pela professora Roseli Figaro vê os freelancers desajustados no sentido em que estão sempre com pressa, sem paciência. “O tempo é algo muito presente na vida desse jornalista, por causa da relação entre o tempo e a produtividade”, explica o pesquisador. Ele analisa que esse ritmo acelerado é análogo à forma com que o leitor age hoje em dia. As matérias do jornal precisam ser lidas cada vez com mais pressa, e isso reflete na vida do profissional.
O estudo ainda vê outros desajustes na vida dos trabalhadores dessa classe. Os freelancers trabalham muito sozinhos, sentindo-se excluídos do próprio grupo. Além disso, o trabalho contamina toda a vida do jornalista: mesmo em seus momentos de lazer, está sempre alerta, pois tudo é um trabalho em potencial para o freelancer.
O volume de trabalho que o freelancer precisa fazer em pouco tempo para garantir seu sustento ainda acaba gerando vícios. Foi analisado na amostra que esses jornalistas tornaram-se muito críticos em relação à técnica de produzir os textos, sem dar a devida atenção ao conteúdo.
A pesquisa se diferencia de trabalhos sociológicos sobre jornalistas. “Não estudamos o jornalista nem como ele deve ser, nem como uma classe separada de seu trabalho”, afirma Grohman. As teorias mais antigas procuravam idealizar o profissional.