São Paulo (AUN - USP) - Cartas, partituras, manuscritos, fichas de leitura, rascunhos. Esses e outros artigos de nomes como Mário de Andrade, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Camargo Guarnieri e Victor Brecheret estão reunidos na exposição O avesso do avesso: o processo de criação de escritores, artistas plásticos e músicos, organizada pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP (IEB).
Flávia Camargo Toni, professora do instituto e uma das curadoras da exposição, conta que a intenção foi reunir obras famosas e outras não tão conhecidas do grande público. Ela também explica o conceito existente em “avesso do avesso”. “A gente quis mostrar o avesso das obras entendendo que ele é a gênese, é o momento em que o autor elabora a obra até ela chegar num determinado ponto em que ele acha que está madura.”
Essa gênese está registrada em manuscritos, partituras e fichas de leitura, como esboços de obras de Brecheret, anotações de Mário de Andrade em livros sobre folclore, dos quais ele retira a lenda do Macunaíma, e fichamentos de leituras e fotografias de Caio Prado Jr.
Há também documentos também mostram idiossincrasias e predileções dos autores que estão relacionadas ao seu modo de criação, como a preferência do maestro Camargo Guarnieri pelo lápis alemão Faber, que não existia no Brasil. Flávia ainda comenta que esse tipo de documento praticamente não existe nas obras criadas nos dias de hoje, já que o computador é cada vez mais usado na escrita.
Esse avesso das obras, no entanto, é sempre relativo, já que o processo de intervenção nas obras não chega a um fim. “Ela também é o avesso do avesso porque esse gesto de criação não para. Muitas vezes você imagina que depois de uma primeira edição aquela obra está completada e contemplada, e você nota que o autor continua a atualizá-la, partindo da que já ficou pronta.”
Macunaíma, de Mário de Andrade, é um exemplo dessa constante intervenção do autor: além dos manuscritos e dos livros utilizados na pesquisa do folclore, também está exposto o exemplar da primeira edição que possui as anotações de Mário. Nele, lê-se claramente a instrução do autor para que as observações sirvam de base para as próximas edições.
Outros itens também registram momentos posteriores à publicação, como resenhas de Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Jr., publicadas em jornais, e cartas recebidas por Guimarães Rosa em que o crítico literário Antonio Candido analisa brevemente alguns livros do escritor mineiro.
Para todos
Flávia diz que a exposição foi pensada para ser visitada tanto por especialistas como por alunos. “Nós pensamos em todo tipo de público. Quem entra na exposição pode ver desde momentos da criação do Macunaíma até momentos da criação de esculturas do Brecheret.”
Segundo a curadora, até mesmo os alunos do ensino médio podem aproveitar a mostra. “O IEB tem um setor de educação que pode acompanhar em visitas monitoradas, mas a própria exposição pode ser vista de maneira independente, porque tem um trajeto que é autoexplicativo.”
Serviço
O avesso do avesso: o processo de criação de escritores, artistas plásticos e músicos
De 18 de abril a 1 de fevereiro de 2013
Sala Marta Rossetti Batista - IEB/USP
Av. Prof. Mello Morais, travessa 8, nº 140 - Cidade Universitária - São Paulo/SP
Segunda à sexta, 9h às 18h.
Entrada gratuita
Mais informações: (11) 5091-5247, colecieb@usp.br