São Paulo (AUN - USP) - Nara Lya Simões defendeu recentemente seu trabalho de conclusão do curso de jornalismo “Censura em pauta: uma abordagem arqueológica do discurso sobre o cerceamento da liberdade de expressão da imprensa”, na Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP).
A partir de uma frase de Patrick Charedeau, que diz que as mídias não são a própria democracia, mas sim o espetáculo da democracia, Nara pesquisou em diversos veículos qual o discurso do jornalismo brasileiro quanto à liberdade de expressão e à censura. Levando sempre em consideração que o termo discurso conceitua um conjunto de enunciados que se apoia em regras e práticas.
Para isso, a graduanda utilizou-se da abordagem arqueológica de Foucault para entender como o discurso sobre a censura transparece e emerge no jornalismo brasileiro atual. Seu objetivo não é entender a origem desse discurso, mas explicar suas regulações em três veículos distintos entre o período de 2007 a 2011: o jornal diário Folha de S. Paulo, a revista Veja e o jornal semanal Brasil de Fato.
Por possuírem diferentes linhas editoriais, os três veículos transparecem distintos discursos sobre a liberdade de expressão e a censura. A Folha de S. Paulo, por exemplo, deixa claro em vários de seus artigos que a imprensa deve ser o “cão de guarda” do Estado, vigiando-o sem intervenções. Já a revista Vejanormalmente coloca a censura como uma ferramenta utilizada por correntes partidárias no campo de batalha político.
Diferentemente, o jornal Brasil de Fato é a favor de “libertar a liberdade de expressão”. Para o jornal de esquerda, a liberdade de expressão deve existir para toda a sociedade, não só para algumas poucas empresas jornalísticas.
No entanto, revela-se que os três jornais possuem certa regularidade discursiva. De certa forma, conclui-se que isso acaba por formar e desenvolver o discurso sobre a democracia que circula atualmente. Todos demonstram um certo ideário sobre o jornalismo, uma centralidade do papel do Estado na questão da censura, uma memória da ditadura militar brasileira e uma afirmação dos princípios democráticos. Esses elementos, então, delineiam o que se lê e o que se fala, hoje, sobre democracia no Brasil.