ISSN 2359-5191

16/07/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 72 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Café Acadêmico debate livro de José Miguel Wisnik que relaciona futebol e interpretações do Brasil

São Paulo (AUN - USP) - No artigo Raízes do século XXI, publicado no número 59 da revista Piauí, Pedro Meira Monteiro, da Universidade de Princeton, faz uma colocação ousada: aponta o ensaio Veneno Remédio: o Futebol e o Brasil, de José Miguel Wisnik, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), como um possível Raízes do Brasil deste século. O livro e sua inserção na tradição ensaística brasileira foram debatidos na última edição do Café Acadêmico, evento promovido pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP), que marcou o encontro entre professor e autor. O evento também encerra o curso de pós-graduação ministrado por Meira no Instituto, em que foram discutidos ensaios marcantes do pensamento latino-americano.

Lançada em 2008, a obra retoma a tradição de ensaios de interpretação do Brasil partindo de uma metáfora peculiar: o futebol. Wisnik usa o esporte para levantar a questão do veneno-remédio, sintetizado na palavra grega phármakon: o que o Brasil tem de mais característico é esse caráter ambíguo, que o faz oscilar, dependendo da dose, entre o fracasso por falta de condições e o sucesso pela criatividade. “O melhor do Brasil sai de dentro do pior do Brasil”, diz o professor.

O futebol, para ele, é o jogo que mantém muitas características pré-modernas, mesmo sendo hegemônico numa sociedade moderna. Ao contrário do vôlei, em que cada saque resulta num ponto, a depender do desempenho de cada equipe, ou do basquete, jogo rápido em que se acumulam muitos pontos, o futebol não está subordinado à lógica produtivista: uma equipe pode ter um desempenho ruim e, mesmo assim, ganhar uma partida. O placar final não sintetiza o que foi o jogo.

Wisnik coloca Pelé como similar a João Gilberto e Machado de Assis, gênios que saltam dos processos de formação de suas áreas – isto é, o futebol, a canção popular e a literatura – para construir uma obra maior que elas. No entanto, apesar do aparente elogio, ele coloca o sucesso do futebol como a concretização do “emplasto Brás Cubas”: um remédio de ilusões, que combate apenas a melancolia.

O professor também ressalta que não se trata de deixar o povo sem um projeto, abandonado à própria sorte e dependente única e exclusivamente de sua capacidade de adaptação e criação. Para ele, as instituições têm que reconhecer essa característica e saber usá-la, coisa que a escola, até os dias de hoje, ainda não foi capaz de realizar.

Meira lamenta que Veneno Remédio seja pouco discutido na USP. O professor convidado aponta o que ele chama de “superego intelectual” por essa resistência, não tanto ao futebol – que Wisnik diz ser “incontornável” numa análise do Brasil – mas ao formato de ensaio, gênero que foge da tradição acadêmica.

Essa forma, mais livre e fluída, permite que o autor não se apegue a paradigmas de interpretação, mas, sim, os articule e com eles dialogue. Portanto, Wisnik afirma que Caio Prado Jr. e Gilberto Freyre não se excluem, mas se encaixam nos seus pontos cegos, já que um trata do Brasil como “empresa colonial” e o outro, como “família patriarcal”.

Copa de 2014
Já que Wisnik usa tanto o futebol na interpretação do Brasil, o que pode-se esperar da Copa do Mundo a ser realizada aqui, em 2014? Para o autor, ela é uma “experiência laboratorial”, que pode para o que lado ruim do que ele chama de “droga Brasil”. “Tudo que o Caio Prado aponta pode estar exposto aí. A Copa pode mostrar o Brasil como veneno.”

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