São Paulo (AUN - USP) - Vinte anos após Rio 92, acontece mais um evento de agenda ambiental no Rio de Janeiro. A cobertura de eventos como esse foi discutida recentemente no Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). O debate contou com a presença dos editores de Opinião e Ciência da Folha de S. Paulo, Marcelo Leite e Reinaldo Lopes, respectivamente. A palestra faz parte da série Imprensa em crise?, que integra a disciplina Estudo de Caso - Imprensa Diária.
O Rio +20 tem como foco principal a discussão de diretrizes futuras para questões ambientais mundiais. No entanto, muitos veículos preferem ressaltar a presença ou ausência de personalidades, a organização e segurança do evento e até o caráter democrático ou não de tais conferências. Os jornalistas presentes concordaram que é de fato difícil ir no sentido contrário do próprio veículo em que se trabalha, mas a iniciativa de extrair a real importância do Rio +20, por exemplo, depende também da postura do jornalista.
Diversos paralelos foram traçados com o Rio 92 e concluiu-se que muitos aspectos negativos da cobertura permanecem até hoje no Rio +20. Por outro lado, nos últimos 20 anos, houve uma explosão de conhecimentos sobre como o sistema da Terra funciona, o que resultou na maior ênfase dessa discussão. Mesmo assim, o destaque atribuído ao ambientalismo resultou em um certo sensacionalismo, principalmente sobre o aquecimento global.
O que tem se alterado é a presença da análise do jornalismo científico em temas ambientais. Reinaldo Lopes disse que ao abortar cientificamente essas questões, surgem muitas incertezas conceituais e é necessário que essas incertezas sejam assumidas. Marcelo Leite completou falando que a cobertura com viés político muitas vezes é considerada superior a uma discussão factual, mas que o Rio +20 não é composto somente por questões políticas.
Os dois jornalistas mostraram-se céticos e desiludidos quanto a quantidade de debate consistente sobre o Rio +20. Mesmo quando os reais objetivos e resultados da conferência são mencionados, ocorre o princípio do Green Washing,ou seja, uma exploração excessiva da questão ambiental, porém sem devidamente contextualizá-la e apresentar consequências concretas.