São Paulo (AUN - USP) - Estudos que relacionam alimentos à maior incidência e à prevenção de câncer são coordenados pelo professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP), Fernando Moreno Salvador. As observações e descobertas são destinadas principalmente ao câncer de fígado e de outros órgãos do trato digestivo.
Estudos epidemiológicos com mais de 200 pessoas revelaram que a maior ingestão diária de frutas e hortaliças diminui a incidência de câncer em diversos tecidos. Além disso, foi descoberto que a alimentação pode diminuir ou aumentar em 35% as chances de desenvolver a doença, dependendo de como são desenvolvidos hábitos alimentares. Em 1986, Salvador iniciou seus estudos sobre os Compostos Bioativos dos Alimentos (CBA).
Já se sabe que a aflatoxina, toxina produzida por fungos que crescem em alimentos estocados, principalmente em amendoins, é cancerígena. Na lista de alimentos prejudiciais também entram a camada de carne que é queimada durante o churrasco, comidas muito gordurosas e diversos chás caseiros de plantas. Por outro lado, compostos encontrados no leite, em laticínios, em geral, e no mel são comprovadamente benéficos na prevenção contra o câncer. Quanto às hortaliças já citadas, as folhudas, como a couve crua, são as mais eficientes.
O professor explicou que sua pesquisa, ao contrário de outras que visam tratar o câncer, serve para preveni-lo, ou seja, como quimioprevenção. A patologia se desenvolve em múltiplas etapas: iniciação, prevenção e progressão. Durante a iniciação, ocorre uma alteração no DNA da célula, que é seguido por uma proliferação celular durante a etapa de promoção. Caso o câncer não seja detectado até então, ele procede para a etapa de progressão, na qual há o estabelecimento da malignidade. Somente as duas primeiras fases são reversíveis e, portanto, a quimioprevenção pode atuar justamente nelas.
Os CBAs são estudados separadamente para a observação de suas propriedades e se eles apresentam boas perspectivas na prevenção do câncer. Simultaneamente, é possível descobrir compostos que aumentam a incidência da doença. Com a ingestão de alimentos que contém certos compostos, tanto a proliferação como a morte das células são avaliadas.
Apesar dos resultados interessantes já obtidos, Salvador prefere comprovar melhor pesquisas em andamento antes de divulgar perspectivas futuras em relação a diversos outros alimentos com potenciais semelhantes.