São Paulo (AUN - USP) - No final do século 19 e início do século 20 o teatro musicado (burleta, opereta e revista) começou a se popularizar no Brasil. Tendo em vista o pequeno aprofundamento no assunto no meio acadêmico, a professora Virgínia Bessa da FFLCH (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas) desenvolveu sua tese de doutorado sobre o assunto. A defesa acontecerá no final de setembro deste ano.

A tese nominada A cena musical paulistana: teatro musicado e canção popular na cidade de São Paulo (1914-1934) está sendo produzida no Programa de Pós-Graduação em História Social da FFLCH-USP, sob orientação do professor José Geraldo Vinci de Moraes, em cotutela com a Universidade de Paris Ouest Nanterre La Défense, na França.

Durante o mestrado Virgínia pesquisou os arranjos que Pixinguinha produziu para a indústria fonográfica brasileira nos anos 1920 e 1930. “Na ocasião, notei que o teatro musicado, especialmente o carioca, era apontado por muitos autores como um importante espaço de formação e de atuação dos compositores e arranjadores brasileiros. A relação entre teatro e música, entretanto, nunca chegou a ser aprofundada por nenhum autor”.

A professora também notou que o assunto tinha muito mais ênfase quando se tratava do teatro carioca do que do teatro de outras capitais brasileiras, como São Paulo.

Assim, Virgínia começou sua pesquisa buscando identificar o teatro musicado paulistano da época. Para isso ela consultou a coluna teatral diária de quatro grandes jornais: Correio Paulistano, O Estado de S. Paulo, Folha da Manhã e Folha da Noite. “Isso me permitiu traçar um panorama quantitativo e qualitativo do universo pesquisado.” Depois disso foi atrás de fontes específicas sobre o tema: libretos e partituras das peças, dos autores e dos compositores mais representativos desse tipo de teatro. “Essa parte da pesquisa é bem trabalhosa e frustrante, pois a grande maioria do material se perdeu, as poucas fontes encontradas estão espalhadas por arquivos do Rio de Janeiro e de São Paulo.” O material produzido pela professora oferece um mapeamento de um universo ainda desconhecido e revela para toda a sociedade aspectos da formação cultural paulistana muitas vezes ignorados. Além disso, a professora aponta que sua pesquisa ao trazer um melhor entendimento de acontecimentos culturais específicos do passado nos permite compreender melhor a cultura hoje em dia, as escolhas que foram e são feitas nesse campo e suas implicações sociais e políticas. Ela aponta também a grande influência desse tipo de teatro em outras mídias: “O próprio rádio e, depois, a televisão, herdaram certos elementos surgidos no teatro musicado, sobretudo no tocante à produção humorística, mas também em certas representações, como os personagens-tipos do ‘malandro’ e do ‘caipira’.”