São Paulo (AUN - USP) - “É impossível esse tal capitalismo verde! É da índole do capitalismo destruir, é do ser dele e quanto mais massivo ele for, mais ele destruirá”, afirma com veemência Ariovaldo Umbelino de Oliveira, professor do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP).
Pesquisando na Amazônia desde 1978, ele relata, com pesar, o desastre ambiental, econômico e social que viu a exploração do manganês deixar de herança para o município Serra do Navio, no Amapá: “Uma cidade que tem a aparência daquelas do faroeste norte-americano, um cenário realmente desolador”. Ariovaldo conta que os equipamentos que restaram da companhia brasileira do grupo Azevedo Nunes e da norte-americana Bethlehem Steel são só sucata. Segundo ele, as pessoas que lá ainda moram vivem na incerteza porque não sabem se ficarão no que restou da cidade ou então nas terras que ocuparam. Terras essas que foram devolvidas à União e é proibido o uso capião em terras públicas. “As famílias vivem nessas terras, criam seu gado, explorando o que restou da floresta e mesmo assim não sabem o que farão do futuro”, conclui.
Sobre o capitalismo verde e economia sustentável, Ariovaldo ironiza: “Vejamos o dono da Natura que, pretensamente, pratica o tal capitalismo verde. Você acha que quando ele chega para ver o balanço da empresa ele procura quanto de natureza protegeu? Claro que não, ele olha quanto lucrou. E não é só ele, como se fosse uma pessoa maquiavélica, é o sistema que o obriga a isso”.
O professor acredita que é preciso rever o padrão econômico (capitalista) que criou na sociedade um modo de vida, na sua opinião, insustentável. “Se nós observarmos esse padrão de vida que a classe média tem no Brasil, Estados Unidos ou Europa – não estou nem pensando na classe dos super ricos – vamos perceber que ele exige uma quantidade de recursos que o planeta não tem para oferecer”, comenta Ariovaldo.
A problemática, portanto, não é uma questão individual, ela é complexa e depende da forma como a sociedade se move. Segundo ele, embora exista a capacidade de produção de comida para três vezes a população da Terra, muita gente ainda passa fome. “Temos que pensar sobre tudo isso, porque não é meia dúzia que vai mudar o mundo, as pessoas precisam ter consciência, se não vamos guerrear”, alerta.
O Brasil já é a quinta maior economia capitalista do mundo. O etanol, comemorado por Lula, deu lugar ao pré-sal. Agora é a vez do petróleo. “Essa lógica dominante está aqui com um poder feroz”, afirma e lança a pergunta: “É isso que queremos?”