São Paulo (AUN - USP) - Quando um adolescente tinge os cabelos, faz uma tatuagem, aplica piercings, ou até mesmo opta por cirurgias estéticas – como o implante de silicone ou a redução do estômago –, costuma-se dizer que é influência do grupo, ou uma forma de chocar os demais. Mas o que dizer de pessoas que se submetem à amputação de dedos, divisão de órgãos, segmentação da pele em escamas ou implantam ganchos nas costas para se pendurarem?
Foi à procura destas respostas que Anna Rita Laurito iniciou uma pesquisa que culminou na sua tese de mestrado em Educação. Anna Rita teve seu interesse despertado quando lecionava biologia a alunos de ensino fundamental e médio a adolescentes que usavam seu corpo como forma de linguagem. Entretanto, no decorrer de sua pesquisa, a bióloga defrontou-se com uma série de modificações muito mais radicais, e seu trabalho tomou um rumo um pouco diferente.
Em primeiro plano, a idéia de que o jovem sente-se pressionado pelo grupo a igualar-se aos amigos é relativa. Anna conta que, do ponto de vista da psicanálise, uma escolha nunca pode ser fruto exclusivo de influências externas. Por mais coletivo que pareça um determinado modismo, ele só é incorporado por alguém se houver um fator de identificação.
Quem se submete imprimir no corpo uma marca está ciente de ingressar numa circunscrição de campo rodeada de preconceito. Anna Rita cita o recente caso da família von Richtofen, em que Suzanne arquitetou a morte dos pais com a ajuda do namorado, Daniel Cravinhos. O irmão de Daniel, que participou da execução do crime, disse ter recebido pior tratamento dos policiais por causa de suas tatuagens.
Se não com a criminalidade necessariamente, as marcas no corpo sempre tendem a alimentar a imagem do indivíduo errante. “Pensemos na fama dos primeiros marinheiros: aventureiros, indivíduos apartados que destoavam da sociedade européia constituída e instalada em lares respeitáveis”, lembra Anna Rita.
A bióloga acredita que exista a possibilidade de que o sujeito que opta por tais modificações esteja buscando tornar-se visível através de uma imagem peculiar de seu corpo distanciada do consentido pelos demais, provocando desconforto.