ISSN 2359-5191

21/07/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 77 - Arte e Cultura - Escola de Comunicações e Artes
Teatro experimental brasileiro nasce de paradoxo

São Paulo (AUN - USP) - A década de 1970 no Brasil foi uma era de extremos. De um lado, o regime ditatorial sufocava a liberdade de expressão. Enquanto isso, nasciam nesse sufoco revoluções culturais e comportamentais baseadas no experimentalismo que formariam a contracultura brasileira.

Identificar como o teatro brasileiro da época foi influenciado pelo experimentalismo e por esse paradoxo político e cultural é o objetivo da tese de Doutorado de Joana Cavalcanti. Em Teatro Experimental: Pioneirismo e loucura à margem da agonia da esquerda, Cavalcanti procura identificar como surgiu e operou o teatro experimental nesse contexto paradoxal. Esse teatro começa a aparecer a partir de montagens debochadas e eufóricas como oRei da Vela, do Teatro Oficina, que se contrapõe ao teatro político já estabelecido. Ao contrário do teatro Arena, cujo engajamento político resultava em obras sérias e impactantes, mas pouco libertárias, as obras do teatro experimental começam a se utilizar de referências populares, como o circo ou as chanchadas.

Enquanto no Teatro Arena, por exemplo, os atores se portavam sempre eretos e sérios, na montagem de Rei da Vela os corpos dos atores exalava jinga e eroticidade. Isso demonstra o desejo de inovar na linguagem teatral e política, além de uma nova tentativa de retratar a brasilidade.

No entanto, mais tarde, grupos como o Sonda, Teatro Oficina eAsdrúbal Trouxe o Trombone seriam duramente criticados pela própria esquerda brasileira. Eram acusados de serem irracionais e alienantes e de não serem diretamente engajados com a causa política. No entanto, apesar de focarem, sim, em questões mais estéticas, Joana Cavalcanti diz que não se pode dizer que os grupos foram menos revolucionários.

Não só ao renovar a linguagem teatral brasileira, aproximando-a do popular, mas ao enfrentar o próprio sistema repressor através do experimentalismo, esses coletivos foram capazes de abalar várias estruturas vigentes na época.

Um exemplo disso é a peça Roda Viva dirigida por Zé Celso, cuja estética ofendia propositalmente os gostos dominantes e cujos atores literalmente invadiam a plateia. Criava-se, então, uma nova linguagem capaz de gerar reflexões e incitar o seu público à ação.

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