São Paulo (AUN - USP) -Em seu doutorado, Políticas linguísticas para o ensino de língua estrangeira no Brasil do século XIX, com ênfase na língua inglesa, Joselita Júnia Viegas Vidotti parte de uma análise histórica para ajudar a compreender a construção dos atuais discursos e concepções com relação à língua inglesa no país. Defendido no dia 25 de junho, na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH), o trabalho se constrói em torno de alguns acontecimentos centrais do século, como a chegada da família real portuguesa ao Brasil e o período regencial, considerados pela autora como de grande influência nas decisões quanto ao ensino da língua inglesa em tais anos e suas consequências para a construção de imaginários nacionais.
A criação das cadeiras (vagas) para professores de latim e inglês em 1809 e a fundação do Colégio Pedro II, primeiro instituto de estudos secundários oficial do País, em 1837 são os principais marcos históricos na implementação e desenvolvimento do ensino da língua inglesa no Brasil do século 19 apontados pela autora. O primeiro acontecimento pode ser relacionado com a vinda da família real portuguesa ao Brasil no ano anterior que terminou por desencadear uma série de mudanças estruturais na colônia. Uma dessas alterações foi a abertura dos portos, que, ao imprimir uma maior presença inglesa na região, por meio do comércio, aumentou o protagonismo e a importância de tal língua na região. Já a criação do colégio é fortemente influenciada pelo início do período regencial em 1831 e a efervescência de revoltas da época, panorama que impulsionou a inauguração deste no papel de instituição modelo para todas as províncias do país, de modo a criar padrões que evitassem a instabilidade e as insurreições. No ensino de línguas estrangeiras, o colégio significou o início da ascensão no prestígio das línguas modernas (francês e inglês) em relação às línguas clássicas (grego e latim).
Para a pesquisadora, esses acontecimentos, acompanhados do início da obrigatoriedade da língua inglesa para o ingresso nos cursos jurídicos (1831) e sua consolidação definitiva no currículo obrigatório das escolas (1834), ajudam a entender alguns movimentos e tendências com relação às línguas estrangeiras no Brasil do Século XIX. O primeiro desses aspectos é a maior importância dada às línguas estrangeiras em detrimento do português, que, inclusive, antes tida como “língua local”, só foi consolidar-se com o nome atual no meado do século 19. Essa discrepância de apreciação é reflexo da tradição do ensino das línguas clássicas, que eram vistas como veículos na construção do conhecimento, uma vez que toda produção a que se tinha acesso na época vinha de fora. Tal estigma ampliou-se gradualmente ao francês e ao inglês, até que eventualmente estas se impusessem às primeiras. No caso da língua inglesa, a nova posição da Inglaterra como principal parceiro comercial do Brasil ajudou a acelerar e consolidar tal processo. Além disso, outro traço importante apontado por Júnia é o reflexo da elitização de tal processo que atinge até os dias de hoje, com a concepção de que só aqueles de classes sociais mais privilegiadas, teriam necessidade e direito ao acesso a tais idiomas.