São Paulo (AUN - USP) - Gustavo Moura de Cavalcanti Mello, em seu doutorado Teorias marxistas sobre o capitalismo contemporâneo, defendido no dia 2 de julho, apresenta um longo repertório de autores de tal corrente, extraindo e explicando conceitos em comum que ajudem na compreensão das contradições e características do nosso tempo, em especial no que diz respeito às crises do modo de produção capitalista. Dentre os teóricos utilizados, estão nomes como o de David Harvey, Jürgen Habermas e François Chesnais, entre outros destacados marxistas da contemporaneidade.
A tese é dividida em três partes. A primeira, mais voltada à análise econômica, expõe as particularidades das crises do capitalismo atual, em especial aquelas ligadas à decadência do modelo de produção fordista. Ao lidar com esse panorama, o autor privilegia a análise marxista pois considera que esta tem um mérito maior ao contemplar as situações de crise, uma vez que, para ele, esta tende a ir mais a fundo na compreensão da multiplicidade de fatores e na análise do conjunto. Além disso, no trecho inicial, o autor destaca como o próprio capital compreende a crise que sofre, destacando a dimensão ideológica da crise, uma vez que em tal momento de fragilidade a burguesia busca reverter-se de ideologia de modo a assegurar sua posição.
Na segunda parte da tese, Gustavo elenca seis conceitos convergentes entre os autores analisados e tidos por ele como essenciais para a compreensão e definição do nosso tempo. São eles a pós-modernidade, neo-liberalismo, globalização, hegemonia, financeirização e imperialismo. O pesquisador define e trabalha tais noções e seus distintos desdobramentos, comentando as interpretações dos autores e destacando também os conceitos da teoria marxista importantes para a compreensão do mundo atual mas que deixaram de ser trabalhados por tais teóricos. Assim, Gustavo não se limita à utilização de tais pontos teóricos para trabalhar o problema da crise, elucidando também como esta desencadeia problemas e divergências dentre as teorias que buscam explicá-la.
Na última parte do trabalho, o autor enfoca as dimensões do imperialismo e da hegemonia no capitalismo atual e, especialmente em tempos de crise, destacando como, segundo a concepção de Lênin, as tendências imperialistas se mostram como respostas à crise do capital. Nesse âmbito de consequências da crise do capital na ação estatal, Gustavo destaca, durante o trabalho, as contradições entre o agigantamento do papel do Estado na contensão da crise e as tendências de superação das barreiras estatais típicas da expansão neoliberal, da globalização e da mundialização do capital. Desta forma, o autor mostra como, mesmo transcendendo fronteiras, o capitalismo ainda permanece intimamente ligado ao Estado nacional.