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10/09/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 83 - Educação - Instituto de Química
Professores da Química criticam o modelo de ensino de ciências no colegial

São Paulo (AUN - USP) - Não é novidade dizer que o ensino público nos colégios brasileiros enfrenta problemas. Os baixos salários e a falta de investimento na capacitação de professores, aliados à infraestrutura deficiente de várias escolas, prejudicam o processo de aprendizagem dos alunos. Contudo, no caso do ensino de ciências, até as instituições privadas realizam um trabalho de baixa qualidade, resultado de um modelo de ensino ineficiente.

É no que acredita Guilherme Marson, professor do Departamento de Química Fundamental do Instituto de Química da USP (IQ-USP) e pesquisador na área do ensino e divulgação da Química. Para ele, o próprio fato das matérias de ciências serem abstratas acaba desmotivando os alunos. O agravante, porém, é que as aulas se baseiam na memorização de fórmulas para, depois, expandir o tema de maneira vaga. “Mais interessante seria, por exemplo, fazer o caminho inverso”, comenta. “Posso começar discutindo a questão das drogas: o que significa ser um dependente químico? Se craque e cocaína são as mesmas substâncias, por que o primeiro tem efeito mais rápido? É muito mais fácil, para quem aprende, partir de algo mais amplo e depois ir para o mundo microscópico.”

Muito deste modelo deficiente vem da prática de sistematizar o conhecimento científico para preparar apostilas para o vestibular. O que deveria ser apenas um método de revisão, no entanto, virou padrão de ensino, e as consequências disso já podem ser sentidas em nossa sociedade. “Estamos vivendo a situação de uma população cientificamente ignorante”, declara o professor, completando: “Os jovens se formam e saem da escola sem nenhuma relação com o conhecimento científico. Isso é muito grave”.

A falta desse conhecimento não dá condições para que as pessoas possam discutir e opinar sobre questões de importância social, com implicações no cotidiano e na qualidade de vida de todos. O caso recente – e ainda sem desfecho – da suspensão na distribuição de sacolas plásticas por parte dos supermercados paulistas exemplifica a situação.

Carmen Fernandez, também professora do Departamento de Química Fundamental do IQ e coordenadora do grupo Pesquisa em Ensino de Química (PEQuim), critica essa tendência: “A função do ensino médio não é preparar para o vestibular. O colégio vai ser o último lugar onde boa parte das pessoas aprenderá algo sobre Química. Elas têm que levar algo a mais dali.”

Carmen tem experiência lecionando Química em vários colégios privados de São Paulo. Para ela, a estratégia de aula depende muito, na verdade, do perfil dos estudantes. O professor tem que saber adaptá-la ao público. “Lembro que tive uma turma em que os alunos faziam experimentos no laboratório e, depois, tinham que criar uma performance teatral explicando o que ocorrera com os átomos e moléculas”, conta. “Isso não seria possível em uma classe de pessoas mais tímidas. Aí, a estratégia seria outra.”

No PEQuim, o grande foco de estudo é o papel do professor e o conceito de conhecimento pedagógico do conteúdo. O bom docente, segundo Carmen, não é apenas um especialista em determinada área, mas aquele que sabe fazer com que seu conhecimento seja transformado de modo a ser absorvido pelos alunos.

Mudar o modelo de ensino não é possível, assim, sem uma mudança em seu principal agente. Isso, entretanto, não é tarefa fácil. “O professor precisa ter condições para se modificar”, diz Marson. “E criar essas condições é uma coisa que demora décadas.”

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