São Paulo (AUN - USP) - Uma pesquisa de Iniciação Científica desenvolvida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), pela aluna do quarto ano de graduação em Letras, Aline de Lima Benevides, aborda as flutuações dos acentos na língua portuguesa falada no Brasil, e visa verificar que características culturais e temporais influenciaram ou ainda influenciam diretamente nessas modificações de fala.
A pesquisadora, de 22 anos, que há um ano e meio se dedica às leituras relacionadas a Fonologia e coleta de corpus de gravações, procura se manter um “padrão mínimo” para a escolha dos informantes, nomenclatura atribuída às pessoas que participam desse tipo de pesquisa, fornecendo material de estudo. “Praticamente a única exigência é de que sejam pessoas com nível superior, completo ou não”, conta Aline. “Mas não estou aceitando ninguém da própria USP, só de outras instituições de ensino.”
Outro aspecto não levado em consideração para a escolha das pessoas, mas que tem uma grande influência na fala, é a idade, de acordo com os resultados preliminares obtidos. “De acordo com a idade do informante, é possível notar algumas mudanças, e isto indica que elas ocorreram através do tempo”, explica. Um exemplo citado por Aline é a palavra “fluido”, que apresenta um encontro medial das vogais “u” e “i”. Segundo apontamentos iniciais, as pessoas com idades mais elevadas tendem a “puxar o acento” para a letra ‘i’, resultando na pronúncia “fluído”, enquanto que pessoas mais jovens tendem à pronúncia regida pela chamada norma culta, “flúido”.
A graduanda, orientada pelo professor Paulo Chagas, do Departamento de Lingüística da FFLCH, também tem se deparado com palavras que sofrem o uso de dupla prosódia, ou seja, que são faladas de duas formas distintas. Ambas, entretanto sendo aceitas pela norma culta como “corretas”.
“Em Linguística, sempre usamos as palavras ‘certo’ e ‘errado’ entre muitas aspas, pois sabemos que na prática não é possível afirmar quem ou o quê é o ‘certo’ ou não”, ressalta Aline. Entre as palavras que admitem dupla prosódia estão “hieroglifo” (ou “hieróglifo”) e “ambrósia” (ou “ambrosia”).
Há mais detalhes interessantes relacionados às flutuações de acento existentes na língua portuguesa falada no Brasil, como por exemplo algumas palavras cuja pronúncia “certa” é muito mais rara do que a “errada”. Na conversa com a reportagem, Aline pediu a leitura da palavra “cateter”, que é mais comumente falada como “catéter”, mas na realidade, a pronúncia indicada é “catetér”, uma vez que se trata de uma palavra oxítona.
Dentro dessas disparidades, uma hipótese da pesquisa é de que as teorias do acento regular existentes não dão conta de como esses são colocados ou recolocados pelos falantes do idioma, de modo que, caso essa ideia seja comprovada, o indicado seria uma revisão e novos estudos das teorias, para adaptá-las à nova realidade.
O artifício que a pesquisadora tem aplicado na coleta de gravações é a solicitação de leitura contendo palavras inexistentes, como “patupo” e “coratem”, para verificar de que maneiras os informantes reproduziriam. “São muitas experiências, as pessoas desconfiam, perguntam, mas não respondo até que leiam”, explica Aline. “Até o meio de 2013, eu já terei realizado essas análises, para comprovar ou refutar as hipóteses”, conclui.