São Paulo (AUN - USP) - Pesquisadores do Instituto de Geociências (IGC) da USP estão utilizando os registros deixados nas rochas há milhões de anos para tentar entender as mudanças climáticas na Antártica desde o início do período Cenozóico. Com isso, os professores Paulo Roberto dos Santos e Antônio Carlos Rocha-Campos procuram compreender os processos de glaciação que ocorreram naquele continente e ainda contribuem para o desenvolvimento da paleontologia e da paleobiogeografia.
O clima se alterou várias vezes em bilhões de anos na Antártica, fazendo com que houvesse vários ciclos de expansão glacial. Segundo o professor Paulo Roberto, há indícios de que não passam de duas essas alterações no período Cenozóico, de 65 milhões a dois milhões de anos. Essa informação contraria as publicações científicas, que dizem que houve em torno de quatro alterações climáticas severas.
Dá pra se imaginar a importância do estudo do clima deste território. O crescimento da glaciação auxilia no resfriamento global. Além disso, um aumento de gelo na Antártica retiraria a água do “estoque” do mundo, diminuindo a umidade e o nível do mar. Por outro lado, o aquecimento poderia causar o crescimento dos níveis oceânicos e provocar aumento de temperatura no mundo inteiro, principalmente nas regiões próximas do pólo sul. Obviamente, essas mudanças não ocorrem naturalmente em períodos curtos, mas é fundamental conhecê-las para entender a formação atual do planeta Terra.
Com essa pesquisa, os professores ainda obtêm informações sobre a paleontologia e a paleobiogeografia do local, por meio da comparação entre fósseis e da datação das rochas.
Em 2003, os dois professores estiveram na Ilha de Rei Jorge, onde o Brasil possui a base de pesquisas Comandante Ferraz, estudando o território. Em 2005, haverá mais uma visita, que provavelmente será a última, dado o número suficiente de informações.
A Antártica nem sempre foi coberta de gelo. Inicialmente, ela estava ligada à África, América do Sul, Índia e Austrália num continente único chamado Gondwana, localizado no centro do planeta. Mesmo quando ela se moveu em direção ao pólo, não havia gelo cobrindo seu território. Isso só ocorreu quando ela se destacou da América do Sul, (após ter se destacado dos outros continentes) permitindo que houvesse uma corrente de ar oceânica que carregasse umidade para a Antártica. Antes, sem umidade, não poderia haver gelo.