São Paulo (AUN - USP) - A campanha eleitoral acaba de começar e já se ouve promessas de todos os lados. Principalmente sobre as necessidades básicas da população, entre elas a habitação. A moradia é uma questão problemática em todos os municípios, só na cidade de São Paulo são mais de cinco mil famílias morando em áreas de risco, sobretudo encostas.
Anualmente, durante o período de chuvas, o mesmo acidente se repete, centenas de famílias desabrigadas, além de mortos e feridos devido ao deslizamento de barreiras. As prefeituras encontram lugares para acolhê-las emergencialmente, mas no ano seguinte estarão morando em outro morro, em uma nova área de risco, por não terem para onde ir.
São muitos os fatores que incidem sobre este problema, mas para um deles o arquiteto Flávio Farah encontrou resposta: a ocupação de encostas. No Brasil temos a tradição de fazer construções para terrenos planos, e quando o espaço em questão é em aclive a solução encontrada é aplainar.
Este tipo de edificação que descaracteriza as encostas tem graves conseqüências, como o deslizamento de terras, acidentes, erosão, assoreamento dos rios com resíduos erodidos e, por conseguinte, inundações. Mesmo quando é feita a terraplanagem das encostas ainda tem se problemas, a exposição de terra de camadas profundas, causando seu empobrecimento, alteração no escoamento das águas pluviais, provocando, mais uma vez, inundações.
E como evitar estes problemas quando não existem terrenos em outras áreas? A resposta do pesquisador é categórica, “Com ação preventiva. O meu projeto visa orientar as pessoas na ocupação destas áreas.”
Flávio Farah, como arquiteto, desenvolveu o projeto para moradias que respeitem as características do solo. As possibilidades são abundantes, entre elas a construção de condomínios escalonados ou unidades sobrepostas. Os condomínios escalonados são erigidos com a base em pequenos degraus planos, o que conserva, dentro do possível, o relevo natural.
Além disso, o planejamento urbanístico desses condomínios também é diferente, as ruas ao invés de seguirem o padrão quadrangular dos quarteirões são feitas em curva, garantindo novamente a manutenção do aspecto original.
Mas o pesquisador ressalta a necessidade do estudo geotécnico do local em questão para o desenvolvimento de um projeto específico.
Atualmente, Farah dedica-se à proposta de implantação de seu projeto na cidade de Itapevi, região metropolitana de São Paulo. A idéia é a construção de casas populares em encostas pela Prefeitura, antes que estas sejam inadequadamente ocupadas.
Em fase de negociação, o governo municipal escolherá os locais para conferir a viabilidade do uso desta nova técnica. Apesar do custo da edificação em encostas ter a tendência a ser superior ao de edificações planas, quando contabilizada a economia com a urbanização, o preço total da obra é equivalente.
A maior dificuldade das prefeituras em adotar o projeto, segundo o arquiteto Farah, está na política de governo. “As prefeituras geralmente apagam incêndios, e não evitam que eles aconteçam”.