São Paulo (AUN - USP) - O professor João Valdir Comasseto, do Departamento de Química Fundamental do Instituto de Química da USP (IQ-USP), conseguiu a aprovação da organização do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Catálise e Síntese Química (NAPCatSinQ), como parte do Programa de Incentivo à Pesquisa implantado neste mês pela Reitoria e apoiado pela Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade. O NAP oferecerá verba para o grupo coordenado pelo professor, que tem, entre outras formas de síntese química, a biocatálise como um de seus focos.
“A biocatálise é multidisciplinar. Ela exige a interação entre profissionais de diferentes especialidades direcionando suas forças para um mesmo alvo”, explica Comasseto. “No Brasil, porém, eles estão atirando cada um para seu lado”. O professor comemora as facilidades que virão com o apoio financeiro, de modo a colocar vários pesquisadores, de diferentes especialidades, em contato.
O método da biocatálise é uma estratégia de síntese química em que as reações são mediadas por enzimas, provenientes, principalmente, de microorganismos. O processo, da identificação a o uso para finalidades sintéticas desses microorganismos, passando pelo isolamento das enzimas, envolve microbiologistas, químicos sintéticos, enzimologistas e biologistas moleculares.
“Este tipo de síntese química é muito utilizado na indústria farmacêutica, por conta de sua enantiosseletividade”, comenta o professor. Quando se realiza uma reação entre uma substância e um reagente químico convencional, obtém-se produtos que são um a imagem especular do outro, chamados de enantiômeros. Apesar de aparentemente iguais, seus efeitos diferem. Um pode ser um remédio e o outro um veneno. Por meio da biocatálise, é possível a obtenção somente, e em larga escala, do enantiômero desejado.
A estratégia contempla, ainda, vários princípios da química verde. “Com a biocatálise, é possível a utilização de solventes pouco ou nada nocivos ao meio ambiente, como água e CO2 supercrítico, para a realização de síntese química. Além disso, os reagentes utilizados – enzimas isoladas ou microorganismos – não poluem o meio ambiente”, declara Comasseto. O método permite também a economia de energia e o reaproveitamento do biocatalisador utilizado.
Enzimas são proteínas formadas a partir de um conjunto de 20 aminoácidos combinados. Existem, justamente, 20 aminoácidos principais na natureza. Um simples exercício de análise combinatória nos leva a perceber que a quantidade de enzimas existentes é, portanto, quase infinita. Segundo Comasseto, “a biodiversidade brasileira ainda é muito desconhecida. O número de espécies catalogadas geneticamente, ou seja, de que temos conhecimentos quanto à composição química, é pequeno”. A área, portanto, está muito aberta a estudos. Enzimas que possibilitam diferentes reações ainda podem ser encontradas aos montes no meio-ambiente brasileiro. Essa relevância da biocatálise, aliada a sua aplicação prática, é um dos pontos fortes do projeto, que possibilitou a aprovação do núcleo de apoio conseguido pelo professor.