ISSN 2359-5191

09/10/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 93 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Programas de inclusão digital podem aumentar a exclusão social

São Paulo (AUN - USP) - No último dia 25, o professor Edilson Cazeloto, da Faculdade Casper Líbero, esteve presente na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP para participar da mesaInclusão e exclusão digital: meios e impedimentos ao acesso do cidadão comum. O evento, que contou com a presença de Hernani Dimantas, fez parte da programação da VII Semana de Biblioteconomia da ECA-USP.

Cazeloto, também vice-presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura, trouxe aos presentes uma visão alternativa sobre os programas de inclusão digital oferecidos pelo Governo Federal. Para ele, a inclusão digital pode ser um caminho para agravar ainda mais a exclusão social.

Em seu livro Inclusão Digital - Uma Visão Crítica (2008), Cazeloto propõe uma reflexão sobre o verdadeiro significado do termo e uma distinção entre o potencial da internet e o seu uso concreto. “O que estamos oferecendo para a sociedade investindo em inclusão digital?”, questiona.

Segundo ele, o Estado começou a reconhecer a internet como política pública, mas “não é a internet em si que se constitui como direito, e sim os bens proporcionados por ela”. E, para o governo, esses bens seriam o acesso à renda e o acesso à informação.

“Mas será que de fato os programas de inclusão digital conduzem a um acesso à renda e aos bens culturais? Em um país com desigualdades históricas, somente esses dois argumentos podem justificar o uso do dinheiro público para programas de inclusão digital?”, indaga. É a partir dessas questões que Cazeloto desenvolveu a sua teoria crítica, propondo uma análise mais minuciosa sobre a inclusão digital.

Acesso à renda
O acesso à renda é uma das justificativas do governo federal para a implementação dos programas, pois a internet seria um modo de oferecer oportunidades de emprego, pequenos negócios, qualificação profissional e capacitação para o uso das tecnologias a uma população de baixa renda e não escolarizada.

Cazeloto acredita que essa capacitação pretendida pelo governo não seria através de cursos profissionalizantes online, mas de uma apropriação informal dos acontecimentos, pois a internet oferece uma cultura de saberes de diversos campos e um manancial quase inesgotável para pesquisa do cidadão.

Mas, para ele, “é dificil conceber que um brasileiro de baixa renda conseguiria uma capacitação efetivamente útil sozinho. Essa pessoa ainda precisa de alguém acompanhando seu percurso para que consiga transformar informação em conhecimento”, afirma.

Portanto, torna-se improvável que um cidadão que não teve oportunidades de educação possa se qualificar através da rede e conseguir um emprego que lhe garanta uma renda mensal. Além disso, os programas focam principalmente em capacitação sobre as próprias ferramentas da informática, o que, somado a exigência desses conhecimentos no mercado, pode excluir aqueles que não conseguirem se adaptar.

“A informatização da sociedade não atua como uma oportunidade, mas como uma ameaça. Ela cria uma necessidade que provoca uma exclusão”, afirma.

Acesso à informação 
Outra razão para a importância dada pelo governo ao tema é a disseminação de bens culturais promovida pelo uso das redes. A internet oferece uma variedade incalculável de textos, informações e notícias que podem proporcionar ao indivíduo um ampliamento de seu repertório cultural.

Contudo, para Cazeloto, trata-se de “um mar de informações não filtradas e não catalogadas, e portanto cabe ao usuário dar sentido para essa navegação”. Segundo ele, a acessibilidade é condição para despertar o interesse, mas não é suficiente para provocá-lo. O que garante que uma pessoa sem educação formal passe a procurar conhecimento apenar por ter acesso a um computador?

“A internet é cheia de informações, mas pode ter pouco conhecimento. Ela só produz conhecimento quando há a intervenção de outros fatores, pois a maneira como as pessoas se apropriam da tecnologia é induzida por questões da sociedade, da educação, da vida cotidiana, e não da tecnologia”, comenta.

Por isso, ele acredita que o principal problema é político, pois se não houver um programa que mexa nos interesses pessoais, a internet será um apenas um meio de entretenimento nas mãos das classes mais baixas, substituindo espaços de convivência pública. “Costumo chamar os programas do governo de Orkut para Todos”, brinca.

Com essa reflexão, Cazeloto conclui que o termo inclusão digital é usado e praticado de maneira errada, e que os programas federais precisam ser reformulados. “A inclusão digital não é a universalização do acesso. Trata-se mais de capacitar o uso crítico da rede, de pensar a tecnologia a partir do cidadão e seu contexto concreto.”

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br