ISSN 2359-5191

18/10/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 98 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Pesquisa da ECA traça o perfil do jornalista de São Paulo e as mudanças em seu trabalho

São Paulo (AUN - USP) - Para realizar um levantamento do perfil dos jornalistas em São Paulo e saber o ponto de vista desse profissional sobre o seu trabalho, o Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP realizou, entre 2009 e 2012, a pesquisa O perfil dos jornalistas e os discursos sobre o jornalismo: um estudo das mudanças no mundo do trabalho dos jornalistas de São Paulo.

Para Roseli Fígaro, coordenadora do CPTC, a pesquisa está em conformidade com o trabalho do cientista social de estabelecer objetivos a partir de uma realidade concreta. “Se é importante estudar o perfil do jornalista hoje, não é só para saber dados quantitativos, mas para saber o que está mudando concretamente no jornalismo, um serviço tão importante para a sociedade”, afirma.

Portanto, além de levantar dados de gênero, faixa etária, escolaridade, vínculo empregatício, relações de trabalho, perfil socioeconômico e de consumo cultural, a pesquisa tentou traçar um panorama das mudanças que estão ocorrendo no trabalho deste profissional e que podem, em um sentido mais amplo, afetar a própria qualidade do jornalismo como produto para a sociedade.

Triangulação metodológica
A pesquisa foi feita através da triangulação metodológica, que se baseia em um questionário quantitativo, entrevistas em profundidade e um grupo focal.

O questionário foi enviado para quatro grupos diferentes. Inicialmente, um pré-teste foi realizado com o grupo A, no qual as respostas foram obtidas através de e-mails e redes sociais de jornalistas com diferentes vínculos empregatícios trabalhando em diversas mídias. O grupo B foi composto por sócios do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo. O grupo C formou-se com jornalistas empregados em uma empresa editorial e, o grupo D, com jornalistas freelancers encontrados através da internet, ou seja, sem vínculos empregatícios.

Foram obtidas 538 respostas submetidas a uma análise quantitativa dos dados. Em seguida, foram feitas 20 entrevistas com jornalistas dos quatro grupos, nas quais foi feita uma análise do discurso. Por fim, realizou-se uma análise das discussões dos grupos de foco.

Perfil do jornalista
A pesquisa concluiu que a maioria dos jornalistas é de mulheres, brancas, sem filhos e jovens na faixa de até 35 anos. Além disso, elas têm curso superior em jornalismo, já fizeram uma especialização em nível de pós-graduação, trabalham com vínculos empregatícios precários, são multiplataformas e trabalham para vários clientes. O resultado que mais divergiu desse perfil diagnosticado foi o do grupo B, originado dos jornalistas sócios do Sindicato, que são na maioria homens e possuem maior estabilidade profissional.

No entanto, os pesquisadores afirmam não ser possível verificar a existência de um único perfil, pois fatores relacionados às mudanças nos processos tecnológicos e organizacionais do trabalho demonstram que ainda está ocorrendo uma transição.

Já os discursos dos entrevistados e dos participantes dos grupos de foco mostraram uma preocupação dos profissionais em dar conta de uma demanda cada vez maior e mais diversificada, que exige conhecimentos em diversos temas destinados a públicos diferentes e em múltiplas plataformas. “O jornalista tem que o tempo todo refazer as normas de trabalho e se especializar para atender essa novas habilidades exigidas”, comenta Roseli.

Mudanças no trabalho
Um dos grandes problemas expostos por eles foi o que chamaram de nanotempo, em que a exigência da rapidez da informação restringe a qualidade do trabalho. Para os pesquisadores, “o tempo aparece como o impostor que impede o exercício crítico e responsável da profissão”. Assim, acaba surgindo uma contradição: o que eles devem fazer, manter os fundamentos básicos da profissão ou atender à loucura dos ritmos e demandas do trabalho?

“Cumprir a deontologia do jornalismo parece um sonho romântico para os jornalistas de hoje. Eles gostariam muito de fazer isso, mas o nanotempo não permite. E esse tempo é o tempo do mercado, da exigência de publicar antes da concorrência, mesmo sem apuração”, afirma Roseli.

Outro aspecto verificado foi o do grande impacto que as redes sociais estão produzindo no jornalismo. Nasce a figura do repórter-cidadão, que torna o jornalismo cada vez mais colaborativo. Mas, ao mesmo tempo, surge o perigo das informações falsas e descontextualizadas e o questionamento sobre a diferença entre o jornalista formado e esse cidadão. Quais habilidades credenciam o jornalista a trabalhar em diversas áreas?

Para os pesquisadores, seriam uma formação generalista, capacidade de produzir diferentes gêneros discursivos, de pesquisa, de síntese e habilidade com as pessoas e, fundamentalmente, ter em mente os valores éticos e a responsabilidade com o direito à informação.

Mas, para Roseli, o jornalismo tem se modificado principalmente devido ao ritmo de trabalho e às limitações impostas pelo mercado. “A pesquisa oferece um conjunto de informações que traz um cenário novo, pois não podemos afirmar que os problemas hoje encontrados no jornalismo são apenas de formação, mas sim das condições atuais de trabalho”.

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