São Paulo (AUN - USP) - Cientistas políticos de três universidades brasileiras se reuniram nessa terça-feira, 6 de novembro, para analisar os resultados das eleições municipais de 2012 no Brasil e o impacto na política partidária do país. O encontro ocorreu no seminário As eleições muncipais e o desempenho dos partidos: balanço e perspectivas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
José Álvaro Moisés, do Departamento de Ciência Política da USP, realizou um panorama da situação dos partidos baseado nos dados de prefeitos eleitos. Para ele, o Partido dos Trabalhadores (PT) saiu como vencedor nacional, tendo crescido em número de municípios, ganhado em São Paulo e contornado os efeitos do julgamento do “mensalão”. No entanto, ele apontou que o crescimento não foi tão grande e que outros partidos também registraram crescimento nas eleições municipais quando ocupavam o Governo Federal. “Não podemos dizer, apesar dessa vitória, que a oposição foi fragorosamente derrotada. Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Democratas (DEM) e Partido Popular Socialista (PPS) conquistaram mais de 1.110 prefeituras e vão governar sete das 15 maiores cidades do país”, ressaltou.
O principal aspecto apontado por Moisés, no entanto, foi o surgimento de duas novas forças no campo político-partidário: o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido Social Democrata (PSD). “Esses dois partidos acentuam a tendência hiperpragmática da migrar para o centro como estratégia de tomada de poder, deixando de lado o conteúdo ideológico dos partidos”, indicou o pesquisador.
A conclusão semelhante chegou Raquel Meneguello, professora do Departamento de Ciência Política da Unicamp, que utilizou como exemplo para ilustrar esse panorama o dado de que, aproximadamente, 75% da população brasileira será governada por partidos de centro ou de centro-esquerda, depois de um período de 20 anos em que a direita exerceu um papel mais significativo no cenário nacional. “O maior exemplo dessa queda da direita em domínio municipal é DEM, que perdeu mais de 70% das prefeituras em 20 anos”, explica.
A pesquisadora atribui essa movimentação em direção ao centro principalmente a um reflexo da estratégia de organização do PT, que se baseia em dois grandes pilares: uma progressiva concessão ideológica e a busca por uma capilarização do partido, com o intuito de expandir a estrutura até os pequenos municípios. “Olhando tanto no espectro nacional como no local, pode-se identificar o PT como eixo dessa movimentação, arrastando consigo tanto partidos da direita, quanto os seus parceiros da esquerda”, explicou Raquel. Além do PT, esse fenômeno pode ser observado em caráter nacional no PSDB e no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), por exemplo.
Uma implicação direta do fenômeno da concessão ideológica fica evidente na análise da composição das coligações locais pelo país. “Apesar de, em nível nacional, haver uma oposição inquebrável entre PT e PSDB, nas eleições municipais desse ano, 22% das alianças do PT continham o partido tucano e 83,8% possuíam partidos de direita”, informou Raquel, expondo dados fornecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Foco no eleitorado
Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, propôs uma análise diferenciada das eleições partindo de uma ênfase no eleitorado, em vez de focar nos partidos. Segundo ele, o entendimento do resultado das eleições passa por um maior conhecimento da constituição socioeconômica e a separação de classes da população e de como os votos se dividem entre as diferentes faixas. “É evidente que a questão social acaba chegando na esfera eleitoral. O maior exemplo disso foi a eleição presidencial de 2006, em que a polarização entre a classe social dos votantes em cada candidato ficou escancarada”, afirmou.