São Paulo (AUN - USP) - A Agência de Comunicações ECA Jr., da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, promoveu no dia 7 de outubro a palestra A comunicação para a nova classe média brasileira, com Renato Meirelles, diretor do Data Popular. A palestra fez parte do último dia do Ciclorama 9, evento que teve como tema as novas formas de comunicação entre marca e consumidor.
Atuando em pesquisa e consultoria, o Data Popular foi o primeiro instituto a se especializar nas classes populares no Brasil, com o objetivo de produzir conhecimento de qualidade sobre o mercado popular brasileiro. A área de pesquisa oferece informações relevantes para que os clientes atuem de forma mais eficiente junto ao público da base da pirâmide, enquanto a consultoria oferece uma série de serviços que auxiliam as decisões estratégicas e táticas das empresas.
Hoje, a nova classe média brasileira é entendida como aquela cuja renda per capita vai de R$ 291 e R$ 1.019, como divulgado pelo governo federal no início deste ano, o que representa 54% da população do país. Para Meirelles, as transformações sociais, políticas e econômicas tiraram grande parte dessa população da pobreza para integrar o universo do consumo, o que torna necessário que o mercado a enxergue como sua principal consumidora e entenda seus hábitos, influências, motivações, sonhos, visões de mundo e valores culturais. “A classe C não é mais um nicho de mercado, ela é o verdadeiro mercado brasileiro. Apesar de ainda relutarem, as agências devem olhar cada vez mais para ela”, disse.
Segundo pesquisas do Instituto, a classe média movimenta R$ 550 bilhões por ano e detém 71% do consumo, mas as agências de publicidade ainda não entendem a grande diferença de valores dessas pessoas e se deixam levar pelo senso comum na hora de investir em propaganda para atraí-las. “A elite não entende a classe média e começa a ficar incomodada com a sua ascensão”, afirmou Meirelles.
A pesquisa do Instituto indica que o perfil dessa classe é a mulher jovem e negra, chefe de família e menos escolarizada do que a elite. Ela é próxima dos vizinhos, valoriza produtos nacionais, faz pesquisa de preço e investe na educação dos filhos. Seu padrão de beleza é diferente daquele valorizado pelas elites, da mulher alta e magra, e ela está cada vez mais conectada às redes sociais.
Para Meirelles, é preciso entender o perfil da classe e diminuir a grande distância entre o mundo corporativo e o universo do consumidor popular. A publicidade deve ser inteligível, simples e objetiva, sem mensagens complicadas e artísticas que ninguém irá entender, mas sem infantilizar o consumidor. “Propaganda boa é aquela que vende e constrói marca. Ou se entende o senso estético da classe C e suas diferenças, ou o consumidor arranjará um jeito próprio de se relacionar com as marcas.”
Para isso, é necessário repensar a lógica que orienta o pensamento corporativo. Esse consumidor muitas vezes sofre com o preconceito e busca um conceito de inclusão, de pertencimento ao grupo, querendo se enxergar na propaganda na televisão. As classes populares convivem com o estigma de que pobre é ladrão, e portanto, questões de confiança e honestidade são um aspecto determinante no relacionamento com esses clientes.
Assim, torna-se essencial que as agências levem em conta as diferenças educacionais, culturais, econômicas e linguísticas para que atraiam esse mercado, que já possui o maior potencial de consumo do Brasil. “Nesse novo país, nenhuma empresa vira líder de mercado se não entender o coração, a mente e o bolso da nova classe C”, completou.