ISSN 2359-5191

23/09/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 12 - Sociedade - Faculdade de Educação
Preconceito contra “sub-literatura” afasta potenciais leitores das bibliotecas

São Paulo (AUN - USP) - A tomada do livro clássico como parâmetro na formação do leitor – e não como apenas um dos possíveis referenciais literários – exclui um grande grupo de potenciais leitores. Claudemir Belintane, professor de Metodologia do Ensino da Faculdade de Educação e estudioso das relações entre inconsciente e linguagem, acredita que “todas as manifestações a que os críticos denominam literatura vulgar constituem pré-requisitos para uma ambiência literária autêntica”.

Configuram, na opinião dos críticos, literatura vulgar as histórias populares, as cantigas, o folclore, a poesia oral, os ditos populares, os jogos de palavras e os ludismos orais, além dos chamados subprodutos literários impressos, como o romance água-com-açúcar e os quadrinhos.

Crianças freqüentemente julgam os livros clássicos como “difíceis” ou “muito longos”. Para Claudemir, “tanto o livro clássico como o livro vulgar e a história em quadrinhos seriam igualmente pedagógicos na sala de aula”. O professor acredita que haja ainda um desejo oculto de preservar o eixo dicotômico entre o leitor e o sub-leitor. A literatura clássica como obrigação prejudica o hábito honesto da leitura, por prazer.

Claudemir explica que na literatura, como em todo o campo das artes, a predisposição, o engajamento e o desejo contam mais do que a produção cotidiana de exercícios e a subordinação a instrumentos avaliatórios de controle.

O Brasil experimentou um salto da cultura oral para as mídias visuais, vivenciando um período restrito de cultura letrada. Dessa forma, a criança pobre, filha de pais analfabetos, tem sua única possibilidade de interação numa ambiência de leitura através da sua cultura oral. Segundo Claudemir, é preciso que se leve em consideração esses “currículos ocultos” em sala de aula, promovendo uma interação entre cultura popular e a literatura de prestígio. “Quando um educador faz questão de não encontrar nenhum ponto positivo neste leitor potencial, ele está contribuindo para a construção de uma esfera negativa em torno dos objetos prestigiados pela escola – como o livro e o leitor”, afirma.

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