São Paulo (AUN - USP) - A Jornalismo Júnior, empresa Junior da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) promoveu a palestra “Jornalismo de Guerra”, com o fotojornalista Joel Silva do jornal Folha de S. Paulo. O palestrante falou sobre a função do jornalismo, os desafios do mercado de trabalho e contou suas histórias como fotógrafo de cobertura de conflitos, principalmente na Síria, quando foi cobrir a chamada Primavera Árabe.
O premiado fotojornalista abriu a palestra pedindo para os espectadores refletirem sobre a função do profissional de imprensa. Além disso, Silva falou sobre a dedicação constante ao trabalho: “Costumo falar que a palavra ‘acreditar’ me acompanha desde quando resolvi ser fotógrafo e continua até mesmo nas minhas pautas diárias”. Segundo ele, a perseverança é o diferencial de um profissional que tem sucesso em seu ofício.
Sempre positivo e animado, Silva contou aventuras que realizou até chegar a trabalhar Folha. Já empregado, Silva contou que, na ocasião, a ideia de ir para a Líbia foi sua. E destacou que, para ser bom jornalista, é necessário ser valente: “É preciso ter coragem. Não só de encarar bombas ou zonas de conflito, vocês que estão se formando em jornalismo precisam de coragem para ver gente doente e passando fome, para registrar tragédia humana ou desastres naturais”. Segundo o fotojornalista, todas as experiências desse tipo marcam e mudam a vida de uma pessoa. “O jornalista traz à luz da sociedade o que está no porão dela própria, o que ninguém quer ver. Para isso, é necessário coragem.”
O palestrante mostrou mapas da região africana para situar os palestrantes. Após isso, começou a ilustrar suas histórias no território em guerra com fotos. Silva falou dos empecilhos iniciais: “Um dos grandes desafios foi passar com todo o material pela alfândega. Outra tarefa que exigiu esforço e criatividade foi encontrar um motorista para me levar para a fronteira da Líbia.” Durante a palestra, o fotojornalista deu vários conselhos de como lidar com situações de risco, usando sua experiência (Silva possui três treinamentos de guerra por três exércitos diferentes): “É necessário pensar bem. Calcular o tempo de viagem para passar por áreas de conflito pela manhã. Você passar, à noite, por um país que está em conflito é muito arriscado”, explicou.
Falando dos procedimentos internacionais de segurança para jornalistas, o fotografou mostrou o material exigido para se trabalhar em áreas de conflito como coletes e capacetes específicos para identificar a imprensa. Silva alertou para outros obstáculos: “Há várias coisas a se pensar. Por exemplo, não da para comer qualquer coisa em lugares precários como esse. É preciso pensar na sua saúde para poder trabalhar”. O fotojornalista atentou também para a dificuldade que encontrou para falar com os rebeldes líbios, já que os idiomas eram bem distintos.
Silva contou que os rebeldes o abordavam para que ele registrasse as paisagens de seu país, sempre repetindo o bordão “Líbia Free”. “Os rebeldes na Líbia foram espertos. Tomaram a fronteira e proporcionaram um espaço para a imprensa poder atuar, divulgando assim as ações deles”. Falando de seu cotidiano no país africano, o jornalista alertou: “A partir do momento que você embarca no avião a sua adrenalina sobe, é difícil dormir pois se está muito concentrado”. Assim, Silva declarou: “Em uma cobertura de guerra, é necessário tomar uma decisão importante a cada cinco minutos”.
O fotojornalismo mostrou as instalações e fotos do cotidiano na Líbia. Contando histórias sobre situações críticas para poder tirar fotos do conflito, Silva arrancou risada dos expectadores com a confissão: “Na eminência da morte, a boca fica completamente seca”.
Em meio a vários relatos, ele ressaltou o conflito ético que enfrentou. Ao deparar-se com duas crianças mortas e mutiladas em um carro, o fotógrafo refletiu: “Me recusei a fazer as fotos das crianças, tenho dois filhos. Você tenta evitar a pressão, mas acontece. É preciso ter bom senso”. No final de sua passagem pela Líbia, passando por situações difíceis e revelando o medo de morrer, Silva confessou: “Comecei a ficar apavorado, isso é um erro. Na guerra, o desespero te mata”.
Por fim, o profissional da Folha avaliou a cobertura: “É o tipo de cobertura muito pesada. Foram pelo menos três situações de morte eminentes”. Assim, o renomado fotojornalista afirmou: “Você conta um pouco com a sorte, mas tem que estar preparado”. Ainda concluiu, mostrando que gosta do que faz: “Estou pronto para ir para a Síria (outro país africano em conflito), já estamos agendando a viagem”.