São Paulo (AUN - USP) - Um trabalho de mestrado, que está sendo desenvolvido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, por Thiago Dias da Silva, busca referências ao conceito de cidadania no trabalho de Hannah Arendt, filósofa alemã que viveu no século 20. Para isto, ele relaciona textos da autora e compara Adolf Eichmann, político de destaque da Alemanha nazista e o filósofo grego Sócrates, identificados por ele como sendo “o primeiro um exemplo de anti-cidadão e o segundo um possível exemplo de cidadão”.
Thiago, graduado em 2009 no curso de Filosofia pela FFLCH, identificou logo no início do mestrado, em 2010, que teria uma dificuldade bastante incômoda. “É sempre um problema dar um título a uma pesquisa, porque no início do trabalho você ainda tem uma visão muita rasa sobre o tema, e muitas vezes buscas mais cuidadosas acabam fazendo com que a ideia inicial se desencaminhe e aí acabamos mudando o foco”, afirma. Um exemplo de alteração de tema no percurso acadêmico aconteceu com o próprio mestrando, que na pesquisa de iniciação científica, durante a graduação, também havia estudado Arendt, porém com um enfoque distinto.
Apesar do grande interesse no trabalho da alemã, Thiago revela que não tinha tido contato com sua obra nem mesmo durante a graduação, até a iniciação, e que passou a conhecê-la através de outros autores. “Li um texto que aproximava a análise de cultura de massas de Adorno e Horkheimer da que foi feita por Arendt, então me interessei pela visão filosófica dela sobre o tema, que acabou se tornando objeto da minha iniciação.”
Desde a graduação, os trabalhos vêm recebendo orientação da professora Marilena Chauí, conceituada filósofa brasileira, ligada ao Departamento de Filosofia da FFLCH, fato enaltecido por Thiago. “Apesar de não ser especialista em Arendt, ela sempre faz indicações bibliográficas e conceituais muito preciosas. É uma professora experiente, conhece muitos assuntos, tem me direcionado a várias obras, não da própria autora que estudo, mas de outros, que a criticam, se contrapõem às idéias, levantando discussões”, explica, deixando claro que não pretende perder essa valiosa contribuição. “Espero que a professora Marilena seja minha orientadora também no meu futuro doutorado, mas não sei por quanto tempo ela ainda vai orientar, pois ela tem escrito muito e não tenho certeza se ela poderá dedicar tempo a meus textos ‘chinfrins’”, brinca.
O trabalho, que foi intitulado Sócrates e Adolf Eichmann: pensamento e cidadania na obra de Hannah Arendt, continua em desenvolvimento atualmente, e o pesquisador comenta a situação da pesquisa. “É um processo bastante intenso, de leituras, anotações, fichamentos, agora estou escrevendo textos que explicam conceitos usados pelos autores e, mais importante, levantar problemas a partir dessas obras e procurar apresentar soluções.”
Todo este trabalho pretende criar uma aproximação do trabalho de Arendt, que, segundo o mestrando, “é apenas ensaiada pelos estudiosos de sua obra, e a hipótese de conclusão esperada pela pesquisa é de que Hannah Arendt é uma crítica da modernidade, sem, com isso, chegar a ser conservadora, ou ‘saudosista’”, diz. “Para a defesa, em 2013, vou organizar os textos em uma versão final mais coerente, e ao mesmo tempo mais acessível ao público não iniciado nos textos da autora, já que, para mim, o grande problema de muitos trabalhos é o hermetismo, mas pretendo contornar isto.”