São Paulo (AUN - USP) - Jovens em situações de vulnerabilidade social fazem projetos de futuro para suas vidas, mas dificilmente conseguem concretizá-los, é o que indica a dissertação de mestrado concluída em 2010 Projetos de vida e projetos vitais: um estudo sobre projetos de jovens estudantes em condição de vulnerabilidade social da cidade de São Paulo, de Daniela Haertel, orientada pelo professor Ulisses Ferreira Araújo, da Faculdade de Educação (FE) da USP.
Para definir o conceito de vulnerabilidade social, Daniela utilizou o autor Robert Castel. “As pessoas que vivem em condição de vulnerabilidade social tem escasso acesso aos bens e direitos sociais, construindo sua trajetória de forma transitória e descontínua, mas tendo um lugar e certo reconhecimento social, apesar de estarem instalados na precariedade e com pouca proteção social”, explica a pesquisador. A partir disto, o estudo pesquisou entre jovens nestas condições se tinham projetos vitais (essenciais para a vida do sujeito) e quais eram. “Estes projetos estão relacionados aos valores que são essenciais, centrais na identidade do sujeito.”
A pesquisa apontou que cerca de 90% dos jovens que participaram da pesquisa, apesar dos obstáculos de sua situação, possuíam um projeto vital para seu futuro relacionados à estudo e trabalho, manifestando a intenção de superar a condição de vulnerabilidade social. Segundo Daniela, um ponto interessante dos resultados é o apontamento de que os jovens manifestavam o desejo de contribuir com o mundo externo – a comunidade ou a sociedade – de modo que seu projeto beneficiasse outras pessoas além de si próprio. “Estes jovens continuam manifestando projetos para o futuro, mantendo esperança de que o futuro pode ser melhor não apenas para eles, mas também para outras pessoas”, declara. “Apesar das adversidades, os jovens têm sonhos e projetos e querem concretizá-los. É preciso oferecer condições e apoio para que eles realizem seus projetos.”
A pesquisa apontou que uma das causas da baixa frequência de concretização de projetos entre os jovens nesta situação é a falta de apoio suficiente nas redes de estrutura social. “Frequentemente fala-se que os jovens não têm projetos, que não querem nada da vida, mas acredito que, na verdade, raramente os jovens são estimulados a falar sobre o assunto e a amadurecer suas ideias a respeito dos projetos para sua vida e para seu futuro”, declara a pesquisadora. “Se desejamos jovens com projetos vitais é necessário ajudá-los a identificar quais são os seus valores e quais são as realizações fundamentais para o seu sistema de valores.”