ISSN 2359-5191

15/12/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 132 - Arte e Cultura - Escola de Comunicações e Artes
Professores destacam aspectos da obra de Villa Lobos, em evento realizado no Departamento de Música da ECA

São Paulo (AUN - USP) - Em participação do II Simpósio de Villa Lobos ocorrido no final de novembro no Departamento de Música da Escola de Comunicação e Artes da USP, o professor Rodolfo Coelho de Souza, comentou sobre a evolução na obra de Villa Lobos de suas concepções de tonalidade, um sistema que estabelece relações entre as notas e atonalidade, que não segue esse sistema, criando dissonâncias, ou seja, sons instáveis. De acordo com o ele, a linguagem harmônica do compositor evolui de modo peculiar. Primeiro é marcada pela influência da música francesa, confirmando sua técnica de harmonia tonal, na qual cada som tem uma função própria.

Porém, esta seria uma fase de reprodução dos modelos franceses, conflitando com seu desejo em marcar a identidade brasileira. Na fase seguinte, adere aos princípios mais radicais modernistas, demonstrando grande influência das concepções radicais de Stravinsky que levam a uma linguagem não tonal e por isso de difícil recepção. A última fase fica marcada pelo interesse em fundir o estilo neoclássico com traços de música folclórica e popular urbana brasileira, trazendo forte pregnância tonal, ou seja, causando forte impacto. Souza ainda destaca a falta de estudos dessa fase: “Esse hibridismo de estruturas com sentidos conflitantes de tonalidade e atonalidade tem sido desprezados até hoje pelos estudos acadêmicos”.

Já a professora da Unicamp, Maria Lucia Pascoal, enfatizou o tratamento de HVL quanto à expansão de sua sonoridade, situando-se no campo da análise-performance. Ela buscou evidenciar o quanto a interpretação pode ser tão importante quanto a própria composição. E por isso, seria tão relevante analisar essas interpretações.

“Não basta só observar a composição e sim como ela é interpretada”. HVL inovou na forma de interpretar uma música clássica, ou será popular? A partir de uma pesquisa em que tratou das estratégias das texturas nas peças da coleção do compositor, ela comprova que, através de interpretações em gravações, Villa Lobos inovou na forma de apresentar a estrutura dos bordões, notas graves que constam nessas peças e criam sua própria linguagem que destaca sua interpretação. Assim, HVL contribuiu para a expansão da sonoridade da música pós-tonal, ou seja, complementou a música moderna trazendo novos elementos musicais para harmonia e melodia, como ritmos, texturas, dinâmicas e timbres. Mais um motivo para considerá-lo um compositor representativo do século 20.

Para encerrar a parte de palestras do II Simpósio, antes da apresentação de música final, Silvio Ferraz, professor de composição no Departamento de Música na Unicamp, trouxe a mesa seu estudo em gênese composicional de Rudepoema, composição de HVL. A partir do contato direto com os rascunhos desta e de Prole do Bebê II, ele demonstrou o rigor para compor que tinha Villa-Lobos. Seja pela ordem de invenção musical, de notação, como de coerência entre versão final e original.

“Villa Lobos revela admirável estratégia de composição que reúne material disperso e sobreposição de elementos, deixando-as apenas indicadas no rascunho para realização somente na partitura final. As dúvidas que a partitura traduz em face da escolha de alturas em determinados acordes, indicam um modo de compor que não está baseado em sistemas pré-concebidos, mas em uma fórmula bastante simples em sua matriz genética.”

Outros aspectos da obra do compositor podem ainda ser notados nos rascunhos. De acordo com o professor, tendo sempre em mente o seu modo de compor e estratégias que se valem para uma escrita fluida. “O modo com que Villa-Lobos trabalha seus fragmentos é o mesmo que encontramos entre os compositores europeus que lhe são contemporâneos”. Ferraz revela que HVL aplica operações simples de repetição, permutação, adição, subtração e por vezes, o acréscimo e deslocamento de breves apojaturas, que são espécies de notas musicais de enfeite que trazem um intervalo de tempo diferente.

Assim, a partir dos rascunhos, o modo contemporâneo de escrita de Villa-Lobos e sua sincronia com as estratégias composicionais que marcariam a música do pós-guerra, fazem de fato com que Villa-Lobos, não se trate simplesmente de um compositor meticuloso, mas de fato rigoroso, de uma escrita rápida e eficiente. E é provável que é a isso que se deva a repercussão de sua obra entre os principais intérpretes da música de concerto da primeira metade do século 20. Ferraz relembra uma frase de Villa-Lobos que pode resumir bem as intenções e opinião do compositor em relação à música que fazia. “Não é música nacionalista, mas autônoma brasileira”. E por isso, é tão importante valorizar os estudos deste autor fundamental para a música do país e do mundo.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br