São Paulo (AUN - USP) - Aconteceu no dia 30 de novembro o Primeiro Simpósio de Radiojornalismo, no Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA. Em comemoração aos 90 anos de rádio no Brasil, uma das palestras do simpósio foi a conferência “A pesquisa sobre rádio de Fronteira”, dada pela professora Daniela Cristiane Ota, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Com todos esses anos de rádio no país, ainda se tem uma pequena percepção por parte do sudeste, região que centraliza a comunicação no país das demais áreas que compõe o Brasil, tais como as regiões de fronteira e o próprio Centro-Oeste.
O potencial de crescimento da região e os perigos que envolvem os jornalistas de lá são alguns dos pontos que confirmam a importância de se atentar a região. Composta por uma faixa de fronteira de cerca de 112 municípios é um local de muitas atividades ilícitas e alta permeabilidade, de acordo com a professora. Só no Mato Grosso do Sul encontram-se 79 municípios na fronteira, marcados por uma baixa densidade demográfica. São cerca de 730 quilômetros só na fronteira entre Brasil e Paraguai, com alta presença do narcotráfico.
Uma fração dessa região se tornou parte do País após guerra do Paraguai, virando Mato Grosso do Sul apenas no fim da década de 70, por incentivo do governo para povoar e desenvolver o agronegócio. Ali principalmente no lado paraguaio e boliviano estão grandes berços do narcotráfico.
Assim, como tem se desenvolvido o rádio na região que é formada 70% pelo pantanal. Daniela destaca que no período da cheia muitas comunidades ficam isoladas e o rádio é o único veículo que consegue fazer comunicação, obtendo 100% da audiência. Desta forma, existe ali uma produção jornalística direcionada para atender essa demanda.
Outro ponto que chama atenção nessa região é a quantidade de rádios com transmissão bilíngüe, funcionando assim como agente integrador de diferentes comunidades. A professora trouxe alguns números mais precisos. Seriam cerca de 76 rádios FMs e 56 AMs. Só em Campo Grande estão 14 emissoras e cerca de cinco delas são de segmento religioso que foram arrendadas. Segundo Daniela tarata-se de um panorama comum ao cenário brasileiro atual como um todo.
Assim, são 28 faixas de fronteiras, nas quais, 12 são brasileiras, 3 na cidade de Ponta Porã, 5 em Corumbá, sendo 14 instaladas com suas bases no Paraguai e outras 12 na Bolívia. Segundo a professora, o interessante é que embora estejam instaladas fora do país, elas se consideram brasileiras. Portanto, são 42% das rádio bilingues. E quanto mais integradas forem as rádios, maior será a produção jornalística diferenciada e com mais audiência. Radiojornais e boletins vão se fazer ouvir.
O foco em música também é forte e é o que os jovens mais reconhecem como função do rádio na região, segundo a professora. Entretanto as notícias nessas rádios são mais fortes que a maioria dos boletins feitos no Brasil que costumam ser apenas retirados da internet. “Quanto mais notícias fronteiriças, maior é a produção local o que gera por conseqüência mais integração”, comenta. Graças a negociações equilibradas isso é possível, ainda assim, faltam projetos que integre mais a região.
Segundo Daniela, atualmente existe apenas o SUS fronteira e um recente do MEC. De forma que a maioria das políticas públicas são restritivas. Há muito a se fazer, principalmente porque embora essas comunidades se unam para assuntos sociais e culturais, no campo político seguem como rivais. E até hoje, a fronteira é retratada pejorativamente e os perigos seguem intensos para os jornalistas que trabalham ali.
Recentemente, foram mortos os jornalistas Paulo Roncara, responsável por um dos primeiros jornais impressos da região, e Eduardo Carvalho, ambos vítimas de crimes de pistolagem que assustam aos demais jornalistas. “Nunca entrava como jornalista nessas áreas, ia sempre acompanhada ou com alguém da prefeitura”, comenta a professora. “Os traficantes usam o rádio para transmitirem mensagens cifradas, programas de transmissão de recados, como ‘dia claro na fazenda’, que significa que não há polícia naquele momento.” A violência contra os jornalistas é grande, o que gera ainda mais receio de tocar no assunto e buscar uma solução para essa questão.