ISSN 2359-5191

15/12/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 132 - Arte e Cultura - Escola de Comunicações e Artes
As diferentes faces de Picasso são tema de seminário da semana Picasso: outros critérios

São Paulo (AUN - USP) - Uma releitura das interpretações das tintas e esculturas do pintor espanhol Pablo Ruiz Picasso, considerado um dos maiores do século 20, foi a proposta da semana Picasso: outros critérios, realizada pelo Centro Universitário Maria Antônia e pelo Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) no final do mês de novembro. Diversos aspectos da obra de Picasso foram destrinchadas em nove mesas de discussão, que convidavam a uma reperiodização do modernismo, do mito que o pintor se tornou, e também do legado que Picasso deixou.

Na última mesa do grande evento, que durou uma semana, o tema foi Arqueologia de Picasso, com o professor da Universidade de Manchester, Charles Miller. O especialista relacionou uma série de esculturas de figuras nuas que o autor produziu entre 1927 na cidade de Cannes com o termo arqueologia, que ele dividiu em três definições.

A primeira definição está relacionada com a própria arqueologia pré-histórica, de onde o autor relacionou as pinturas pré-históricas com os estudos de Picasso, com a sexualidade, a construção de objetos fálicos que estão introduzidos nas obras. Já outro sentido de arqueologia está na psicanálise, onde Miller falou da teoria de Sigmund Freud em que trabalha as relações entre o falo, que determinou como “falo da modernidade”, passando esse resgate da arqueologia para a psicologia.

A terceira relação que o especialista fez com a arqueologia do saber de Michael Foucault. Ele questiona como é possível a relação entre a psicanálise com Picasso, que para ele não são suficientes nem com os conceitos de influência nem de zeitgeist (tempo).

Antes dessa teorização, Charles divulgou uma propaganda de uma marca de carros que utiliza o nome de Picasso em um dos modelos, e falou da utilização no nome do autor, que para ele se tratava de uma “alegorização” que mostrava a contradição da obra original, e a perda da sua “aura”, tal como pontuou Walter Benjamin, com a sua popularização à sociedade de massa.

Esse capital simbólico (capital que tem valor que vai além dos meios econômicos) criado com a descaracterização do original pode ser relacionada também com a real utilidade a obra de arte, e do que ela significa. Com isso o especialista fez uma surpreendente relação do carro com as obras de Marcel Duchamp, que transformava o corriqueiro, como um urinol, em arte, o que para Miller era a contraposição da arte com a utilidade.

Assim Miller coloca Picasso como um anti Duchamp, também relacionado à ideia de assinatura das obras, e de como elas são desconstruídas, como nas que estão nos carros, na fantasia da reprodução. Com isso ele fala da ideia de genialidade, e do que Picasso representou, com a seguinte colocação “o que deve ser salvo no gênio é o que é instrumental no trabalho”.

Essa relação logo foi tomada com os conceitos de arqueologia relacionados pelo professor, que logo apresentou para os espectadores as obras produzidas em 1927. Assim, finalizando sua explanação, ele também citou o psicanalista Carl Gustav Jung, que fez uma retrospectiva de Picasso em 1932, e que disse que o artista relacionava um mergulho no inconsciente, como se estivesse se entrando na historicidade reprimida do indivíduo.

As discussões sobre Picasso, tanto entre sua obra como no impacto que ela gera nas pessoas estão sempre em renovação. Sua obra consagrou-o como um gênio, e esse talento proporciona discussões infinitas, que se unem à história da modernidade. Assim como colocou Charles Miller, Picasso is still interesting (Picasso ainda é interessante).

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